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30 março 2018

Humor antigo...

Humor antigo
com o traço
de René Caillé
.

- Não tens imaginação nenhuma!
Diamantes... diamantes e mais diamantes!...
Que disparate, menino!

29 março 2018

Há dias em Oleiros...

... ainda sobrou tempo para a cultura "não gastronómica".

O magnífico altar-mor da 
da Igreja Matriz da Vila de Oleiros.

28 março 2018

No Parque dos Loureiros...

em Castelo Branco, integrado numa obra de
Cargaleiro.
,
Da morte mays desejosos,
Cem myl vezes que da vida

                                      João Roiz de Castelo Branco

27 março 2018

Admirável, esta frase...

"Sendo a velocidade da luz superior à velocidade do som, é perfeitamente normal que algumas pessoas pareçam brilhantes até abrirem a boca..."

(autor desconhecido)

26 março 2018

Escrito no vento...

"Que seria  dos seres humanos sem as mulheres? Seriam raros... extremamente raros!..."
.
Mark Twain
1835/1910
escritor americano

25 março 2018

Vale a pena...

...num poema que
Miguel Torga
escreveu em
23 de Outubro de 1945
.
Miguel Torga
.

Ajuda

Porque o amor é simples,
Vale a pena colhê-lo.
Nasce em qualquer degredo,
Cria-se em qualquer chão.
Anda, não tenhas medo!
Não deixes sem amor o coração!
.
Miguel Torga
in. Diário III 

24 março 2018

Humor antigo...

com o traço de 
Wenzel

- Más notícias para ti, querido! O teu sócio
quer ficar com a sociedade completa...

23 março 2018

São quadras, meu bem... são quadras!...

.

Nunca gostei de mentir
Mas p’ra ti ainda minto
Quando te faço sentir
Aquilo que já não sinto.

22 março 2018

Setubalense 1971 Agosto

02.Agosto
Concerto no Coreto da Avenida
Na 5ªfeira passada (29 de Julho), a banda de música da Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense, realizou um concerto na Avenida.
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04.Agosto
Melhoramentos na rua Antão Girão para benefício dos condutores, como complemento das obras da pavimentação da Travessa da Alfândega, foram iniciados trabalhos de transformação da parte sul da rua Antão Girão, na parte que liga com a rua Arronches Junqueiro.
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04.Agosto
Casamento
Na Igreja de São Pedro, em Palmela, realizou-se esta tarde, o casamento da estudante de engenharia D.Maria da Conceição Oliveira Maçarico… com o estudante de Agronomia, Sr.Humberto José Rosa Cardoso.
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07.Agosto
Iniciam-se hoje os I Jogos Juvenis de Setúbal.
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9.Agosto
Uma postura municipal para “inglês ver”…
Ponto de vista de J.Madeira sobre a postura municipal que dá prioridade aos peões, nas passadeiras…e que ofende os “intocáveis volantes”!
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11.Agosto
O primeiro livro do estudante Carlos Jorge, em que o autor utiliza heterónimos: Joane Balthazar, Miguel Jorge Leitão, Rui Bota e Carlos Cigano.
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14.Agosto
O porto de Setúbal moderniza-se!
Encontra-se praticamente concluído o cais nº5.
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14.Agosto
Alunos do Liceu de Setúbal em visita ao Ultramar
Os alunos Júlio dos Santos Botas, Viriato Horta, Ricardo Martinez e António Tavares que obtiveram as melhores classificações no Curso de Estudos Ultramarinos, integrados nas Actividades Circum Escolares, partiram para o Ultramar.
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16.Agosto
Ontem estiveram 40.000 pessoas, em Tróia.
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16.Agosto
O Porto de Setúbal em evolução!
Iniciados já os trabalhos de vedação dos Cais do Porto de Setúbal.
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18.Agosto
Arrábida
Uma extensa área da Serra da Arrábida passa a constituir Reserva Florestal (Dec.Lei nº355/71
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23.Agosto
A Abrir
Artigo de J.Madeira sobre a abertura dos Parques Infantis, pela cidade e sobre uma cena caricata no Parque Infantil do Bonfim.
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23.Agosto
O Presidente do Município prometeu beneficiar os Bombeiros com a montagem do Serviço de Telecomunicações
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25.Agosto
O Vitória F.C. joga amanhã na Coreia
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28.Agosto
Está em estudo a construção de um Hotel com 18 pisos, na Avenida Luisa Todi.

21 março 2018

Humor antigo...

...com o traço de
Kiraz
.
- Dá-me impressão que me resolvia a comprá-lo, se o visse vestido em alguém...

20 março 2018

Escrito no vento...

"O vinho alemão distingue-se do vinagre graças ao rótulo da garrafa."
.
Mark Twain
1835/1910
escritor americano

19 março 2018

São quadras, meu bem!... São quadras...

Meu caminho de rosas, que não tive,
Lego-te em testamento aos naufragados;
Sem veludo nos pés é como vive
Quem quer deixar os passos desenhados.
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Miguel Torga
28.10.1948

18 março 2018

Editorial do i...

...no dia 15 de Março
José Cabrita Saraiva
assinou um texto a que deu o nome de
"O maior contributo de Sephen Hawking
não foi a ciência."
.
José Cabrita Saraiva
.
Albert Einstein e Charlie Chaplin conheceram-se nos Estados Unidos, quando o grande físico andava em digressão pelas universidades norte-americanas, e tornaram-se amigos chegados. Einstein convidou Chaplin para jantar e Chaplin convidou Einstein para a estreia de "As Luzes da Ribalta", em Janeiro de 1931. Perante os aplausos da plateia, o físico alemão terá confidenciado ao amigo: "O que mais admiro na tua arte é o seu caracter universal. Não dizes uma palavra e, no entanto, toda a gente te compreende". Com a inteligência e o humor que o caracterizavam, Charlot respondeu: "É verdade. Mas eu admiro-te mais ainda". Einstein ficou algo perplexo. "Porquê?" perguntou. "Porque ninguém te compreende e ainda assim todos te admiram."
O que sentimos em relação a Stephen Hawking, o astrofísico que morreu ontem, aos 76 anos, é mais ou menos isso: ninguém o compreende e ainda assim todos o admirávamos.
Há alguns anos, li com afinco um dos seus livros mais populares, "Breve História do Tempo", mas para o pouco que retenho nem precisava de o ter aberto: resume-se ao texto da contracapa, que falava da sua doença e do facto de ocupar a cátedra de Newton em Cambridge.
O professor Carlos Fiolhais, nesta edição, diz que a figura de Hawking "está um bocadinho distante" das de gigantes como Newton e Einstein. mas o seu maior contributo não foi, porventura, para a ciência.  Foi para a humanidade. Como as piadas e os gestos de Chaplin, não é preciso ser muito inteligente ou culto para perceber que a forma como Hawking superou uma doença incapacitante e continuou a fazer a sua vida foi algo extraordinário que nos dá mais confiança nas capacidades do ser humano (ou talvez, para sermos mais exactos, da sua mente"). Hawking nem precisava de ter sido um astrofísico brilhante - que o foi - porque, com o seu exemplo, ensinou-nos mais do que qualquer descoberta científica.
.
NB -
Esta breve história não deixa de ser uma pequena homenagem ao astrofísico agora desaparecido... e o diálogo que o jornalista foi buscar ao longínquo ano de 1931, entre Einstein e Chaplin, até parece apropriado... Só não percebo bem como é que Charlie Chaplin foi convidar Albert Einstein para a estreia de um seu filme que só foi estreado em 1952!...

17 março 2018

Em Castelo Branco...

... 23 de Maio de 1953.
No Jardim do Parque
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De pé: Júlio Diniz,  Rui de Oliveira Costa e Porfírio Lima.
Sentados: jjmatos, Sebastião Morão e Rafael Gamas.

16 março 2018

Escrito no vento...

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"As pessoas de esquerda inventam incessantemente ideias que, depois de usadas, passam a ser adoptadas pelas pessoas de direita."
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Mark Twain
1835/1910
escritor americano

15 março 2018

Eles foram professores do Liceu...

Alfredo António Pequito
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Foi professor efectivo do 3ºGrupo (Inglês e Alemão), no ano lectivo de 1947/48, tendo tomado posse no dia 25 de Novembro.
Durante a sua curta estadia desempenhou os cargos de Director das Instalações da Biblioteca do Liceu e de Director de Ciclo ainda no antigo edifício do Liceu.
Mais tarde foi Reitor do Liceu António Barreto, em Bissau, na Guiné.
.
Nota – Em Janeiro de 1962, quando entrei no Estágio pedagógico, realizado no Liceu de Pedro Nunes, encontrei ali como professor de Inglês, o Dr. Alfredo Pequito, quando já se encontrava muito próximo da reforma. Nesse mesmo ano, tive como colega de estágio o professor José Martins Gomes Pequito, filho de Alfredo Pequito, que frequentava também aquele Liceu, como estagiário do 3ºGrupo (Inglês), sob a orientação do metodólogo Aníbal Garcia Pereira.
Por proposta do Ministro da Educação Nacional de 12 de Dezembro de 1961 foi lhe atribuído o grau de Oficial da Ordem de Instrução Pública. Publicado no DG n.º 256, 2ª Série, de 31 de Outubro de 1962.

14 março 2018

Stephan Hawking

Faleceu hoje, em Cambridge.
Tinha 76 anos.
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Stephen Hawking
.
Hawking era portador de esclerose lateral amiotrófica, uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem, no entanto, atingir as funções cerebrais, sendo uma doença que ainda não possui cura. A doença foi detectada quando tinha 21 anos

Hawking, cujas investigações sobre o Universo são consideradas das mais relevantes da história da ciência, disse que “no passado, antes de entendermos a ciência, era lógico acreditar que Deus criou o Universo”, mas que atualmente tal crença não fazia sentido.
Agora a ciência oferece uma explicação mais convincente. O que quis dizer quando disse que conheceríamos ‘a mente de Deus’ [escreveu isso no livro “Breve História do Tempo”] era que compreenderíamos tudo o que Deus seria capaz de compreender se por acaso existisse. Mas não há nenhum Deus. Sou ateu. A religião acredita em milagres, mas estes são incompatíveis com a ciência”, disse.
A afirmação do cientista surge depois de anos de alguma especulação sobre as suas verdadeiras crenças, uma vez que, se em Breve História do Tempo dissera que era possível conhecer “a mente de Deus”, noutras intervenções e no livro O Grande Desígnio (ambos publicados em português pela Gradiva) admitia a hipótese de o Universo se ter criado a partir do nada.
Em Breve História do Tempo, Stephen Hawking tinha exposto a sua ideia de que, um dia, seria possível à Humanidade saber tudo sobre tudo. E, ao El Mundo, reitera a sua posição. “Penso que sim, que conseguiremos entender a origem e estrutura do Universo. Na verdade, agora já estamos perto de atingir esse objetivo. Na minha opinião, não há nenhum aspeto da realidade fora do alcance da mente humana”, afirmou.

13 março 2018

Nunca pensei...

...que a escritora e jornalista
CLARA FERREIRA ALVES
Escritora e Jornalista,
pudesse ter escrito este artigo...
.
Clara Ferreira Alves
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O texto é muito extenso... mas vale a pena ser lido. 
É uma "lição de História", muito recente...
.
"Não estava à espera neste ponto da minha vida e neste ponto do século XXI, dobrado o século XX há uns aninhos, de ver aparecer a acusação. Anticomunismo. Parece que qualquer pessoa que não confie na bondade intrínseca de um acordo de governo com o Partido Comunista Português é anticomunista. Confesso ter nostalgia de muitas coisas, mas não desta. A de repensar o anticomunismo privado. Sou ou não anticomunista? E se for? 
A questão não é meramente ideológica, é existencial. É, por assim dizer, teológica. Cheguei à conclusão, depois de muito matutar, de que sou anticomunista. Acredito na economia de mercado, no capitalismo regulado e na iniciativa privada. Não acredito na coletivização da propriedade e da economia, na eliminação da competição nem na taxação intensiva do capital. O atual Partido Comunista não partilha estas minhas convicções. É coletivista, e foi sempre, ao contrário do que nos querem convencer, pragmático. 

O PCP foi sempre pragmático e anti-idealista por natureza. Nunca foi um partido romântico e só teve um panfleto literário romântico, os “Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes. Tirando isto, o PCP é um bloco realista e de realismo social, no sentido que a palavra tinha no século XIX.

Para o PCP, a marcha da História é marxista, o sentido da História é o da extinção do capitalismo (e não a sua regulação) e o da criação de uma nova consciência social, cívica e política nas mãos do proletariado e das suas vanguardas, organizadas em comités, ou no que lhes quiserem chamar, que controlem os meios de produção e os seus instrumentos financeiros. O PCP era isto. E é isto.

Por razões históricas, fui sempre anticomunista. E por razões ideológicas, também. Sou uma anticomunista que não tem vergonha de ser anticomunista e que tem e teve amigos comunistas (mais teve do que tem, porque tudo o que se relaciona com esta doutrina é, irremediavelmente, passado). Claro que podem ler nesta frase — “tenho amigos comunistas” — a mesma desconfiança que leem quando os homofóbicos dizem que têm amigos gays. E, já que falamos disso, o PCP sempre foi ferozmente antigay. Só se mudaram. Já lá iremos.

Sou anticomunista por razões históricas e profundamente temperamentais. Como boa individualista que sou, tenho horror a coletivismos impostos, e uma boa parte da minha adolescência e entrada na idade adulta foi passada a assistir e a resistir a isto. Posso mesmo dizer que, doutrinariamente, o que me definiu foi ser anticomunista. O fascismo tinha terminado no 25 de Abril. O fascismo foi outro regime totalitário que não percebeu a História. Comecemos pelo princípio.

Na Faculdade de Direito de Lisboa, os estudantes comunistas tinham o estranho hábito de decretar greves gerais sem consultarem todos os alunos nessa votação. Um aluno chegava à faculdade e diziam-lhe: hoje não entras, há greve. Há greve? Quem votou? Nós. Nós quem? Numa reunião secreta. Se foi secreta, como é que votámos? Nós votámos. Por causa desta discussão insana que despertava em mim instintos libertários e anarquistas, cheguei a furar uma ou duas greves com mais uns dementes como eu que não gostavam de ser paus-mandados. De um lado tínhamos os gorilas e do outro lado tínhamos as greves obrigatórias dos comunistas, que se arrogavam o monopólio da contestação. A UEC era formidável nisto, no monopólio da contestação, e quando o MRPP tentou furar este monopólio teve o apoio de boa parte dos estudantes, que estavam fartos da UEC e dos seus esbirros da MJT. A MJT era o braço armado dos comunistas e chegou a encerrar alunos dentro das aulas para bater nos maoistas à vontade depois de deixar sair os outros, os “cobardes”. Uma das vezes, escapuli-me por uma janela antes que a MJT entrasse armada de matracas e correntes de bicicleta. A MJT era o operariado da UEC para a porrada. O Movimento da Juventude Trabalhadora. Quando o COPCON entrou pela faculdade, dando cabo de tudo à passagem, esgueirei-me para Coimbra em “transferência secreta” (não podíamos fugir da revolução em curso) e implorei ao professor Rui Alarcão que me aceitasse na vetusta instituição.

Em Coimbra, vigorava um comunismo soft. Os comunistas controlavam tudo muito civilizadamente. Sem pressões e mantendo o currículo académico. Restava o problema dos sovkhozes e dos kolkhozes. Sobrando em Direito professores comunistas que não abdicavam da coletivização dos bens e dos meios de produção, fomos obrigados a estudar marxismo coagidos pela frase: quem vier para as minhas provas escritas e orais defender a propriedade privada pode contar com um chumbo. Andei em guerra até ao fim do curso com um professor chamado Orlando de Carvalho, que jurou que me chumbaria em qualquer circunstância (deu-me 14 depois de eu ter encornado a sebenta toda, incluindo as cedilhas e os pontos e vírgulas e, salvo erro, a célebre nota 64). O Orlando era um comunista católico envergonhado. Era um coletivista desavergonhado e um misógino desembestado. 

Sem dinheiro para ir estudar para fora e fugir desta gente, achei que mais valia submeter-me e engolir a teoria, engolir os kolkhozes e os sovkhozes (que eram de outro professor comunista) e despachar-me daquilo. Foi o que fiz.

O Partido Socialista parecia-me, com Mário Soares e a doutrina do socialismo democrático, a única oposição responsável ao totalitarismo de Cunhal e dos militares que não queriam regressar aos quartéis. Estive na Fonte Luminosa, claro, e assisti ao lento e duríssimo processo da democratização de Portugal. Os comunistas eram o que tinham sido sempre, intratáveis e muito pragmáticos. Quem não era por eles era contra eles. 

Nunca entrevistei Cunhal até ao fim da vida dele porque sempre recusei mostrar-lhe a entrevista para ele editar à vontade. Não iria à Soeiro Pereira Gomes. Um dia, consegui negociar. Iria à Soeiro Pereira Gomes, mas editaríamos o texto juntos. No que eu não concordasse, não passaria a emenda. Cunhal aceitou, e a conversa resvalou para Shakespeare e o “Rei Lear”, que ele queria traduzir (acabar de traduzir). Não emendou nada da entrevista. Álvaro Cunhal, com perto de 80 anos, tinha adoçado e era uma figura intelectual respeitável que eu respeitava muito. Já não era o inimigo. Havia uma diferença entre conversarmos sobre Shakespeare — o “Rei Lear” é a minha peça favorita e era a dele, um tratado sobre o poder e a partilha do poder — e ter o doutor Cunhal a mandar na minha vida. Na verdade, anos antes, o doutor Cunhal quisera fazer de Portugal a jangada de pedra do estalinismo europeu. Uma espécie de little Bulgária. 

Do PCP tinham entretanto saído muitos dissidentes, enquistados com a ausência de democracia intrapartidária. Muitos desses dissidentes eram ou tinham sido comunistas ortodoxos, dos que aplaudiram de pé a entrada dos tanques do Pacto de Varsóvia em Praga. Eu estava, sempre estive e estarei com os dissidentes checos, com Václav Havel e com a democracia.

Em Portugal, o PCP sufocou todos os desvios à sua norma ou absorveu toda a contestação não emanada das suas instâncias representativas da massa. Da massa, sim, não da cultura de massas. Por um lado, o PCP tinha a tradição da clandestinidade e da coragem na clandestinidade e não admitia dissidências desta tradição. Julgava-se o único detentor da verdade contestatária (como se tinha julgado na Faculdade de Direito o único autor das greves estudantis). Por outro lado, a cultura de massas assente no individualismo era-lhe profundamente estranha. No meio literário português dominava largamente, não apenas através das instituições que controlava (da APE à SPA) como através dos compagnons de route sem filiação na extrema-esquerda radical e sem movimentos adequados à sua representação. O papão da direita e um esquerdismo social unia esta gente. Mais um certo aggiornamento chique que, pensavam erradamente, o PCP lhes conferia. A Festa do “Avante!” era um dos altares desta missa. O PCP pode ter muitos defeitos, mas nunca foi um partido estúpido, embora tenha sido apanhado desprevenido com a queda do Muro de Berlim. Quem não foi? O PCP olhou para Gorbachev primeiro com ódio e depois com incredulidade. O império soviético desmoronava-se. Os que acreditaram numa mudança de mentalidades dentro do PCP depressa foram expelidos ou condenados pela inquisição do partido. O PCP não mudara. O mundo mudara sem ele.

A atitude intelectual totalitária que caracteriza o PCP deixou como legado a anemia intelectual portuguesa. O neorrealismo deixou de ser dominante, mas não chegou a ser substituído por movimentos herdeiros da modernidade e do modernismo. Nem por um esboço de pós-modernismo importado de Paris. Esta é a nossa tradição. Os grandes intelectuais portugueses sentiram-se sempre exilados dentro do seu país, como Fernando Pessoa e Alexandre O’Neill, ou exilados reais, como Jorge de Sena. Ou como Eduardo Lourenço, que sofreu a ansiedade da separação. E havia os açorianos, uma casta especial de solipsistas, de Vitorino Nemésio a Natália Correia. São, todos, navegadores solitários. Pessoa teve a sorte de ter tido a geração de Orpheu a fazer-lhe companhia.

Basta ir a Londres e à Tate Modern, e visitar a exposição “The World Goes Pop”, para ver como Portugal não consta desta revolução. É a única ditadura ocidental dos anos 60 e 70 que não teve representantes e cultores pop. Não teve movimento pop. Não teve a anarquia pop. O protesto pop. A arte pop. O Brasil teve, a Argentina teve, o México teve, a Espanha teve, o Chile teve. Portugal não teve. Devemos isto ao PCP e à hegemonia do PCP num país pequeno e sem mercado de ideias, vinculado ao Estado e aos ditames e subsídios e cargos do Estado. A única escritora portuguesa que verdadeiramente escapou a esta hegemonia foi Agustina Bessa-Luís, e por isso ela permanece o ícone intelectual da direita (da nova direita) e por ela é exaltada e venerada. Agustina era o triunfo do individualismo desde que decidira escrever “A Sibila”. Agustina detestava os comunistas, não por serem comunistas mas por não serem livres. Tive com ela esta discussão e sei que as palavras de Agustina eram diferentes das palavras de todos os outros escritores, incluindo os liberais cosmopolitas que estavam próximos do PS, como Sophia de Mello Breyner ou David Mourão-Ferreira. Agustina não é, não era, nunca foi de esquerda. Nunca precisou de uma moral de esquerda, tal como esse lúcido libertário chamado Mário Cesariny de Vasconcelos.

Para a nomenclatura do PCP, ser de esquerda era mais benéfico do que ser comunista, quando se tratava de escritores. Controlando as instituições, o PCP resistia a dar prémios literários a José Saramago. Porquê? Dava-os aos outros e não a ele. Deu a José Cardoso Pires e a Paulo Castilho ou Mário Cláudio. Nunca deu a “Memorial do Convento” e a “O Ano da Morte de Ricardo Reis”. Porquê?

Assente-se que Álvaro Cunhal não gostava de Saramago. Nem pessoalmente nem literariamente. Cunhal era um esteta, um romancista falhado, e nem no estilo nem na receção crítica do estilo, relacionados com a pureza do neorrealismo, podia identificar-se com a retórica do escritor-estrela dos comunistas. Saramago era um maneirista inspirado pelo padre António Vieira e o Século de Ouro espanhol, e mais depressa apanhariam Cunhal a aplaudir a subversão existencialista de um Albert Camus do que um missionário jesuíta do século XVII. Saramago era um escolástico, e Cunhal abominava a escolástica. Ninguém reparou nisto. Foram mais rivais do que Eça e Camilo foram. E o PCP nunca gostou de estrelas.

E a direita? A direita portuguesa foi sempre preguiçosa e tendencialmente analfabeta. Quando digo a direita, digo o capital, os capitalistas portugueses. Simbolicamente gordos e anafados como nas caricaturas de Vilhena, nutriam pelos socialismos e pela social-democracia um ódio rancoroso e viviam no passado. Sá Carneiro foi tolerado por eles, não foi amado. Até nascer o novo capital, o das novas empresas e grupos e dos novos assalariados de luxo do novo capitalismo português, a direita era uma caricatura sem ideologia com uma ou duas figuras excecionais na indústria, como António Champalimaud. Ficara presa à nostalgia do antigo regime, sem particular engrandecimento da memória imperial, às vezes por ignorância, e a uma postura cívica sem mestre intelectual. Os raros ativistas letrados e revolucionários desta direita sentiam-se órfãos. Como dizia um deles, a direita portuguesa era do género: vão andando que depois vou lá ter. Os outros converteram-se e decidiram trabalhar com quem estivesse no poder. Nascia gente na banca e nas empresas, produto da democracia e da pequena burguesia dos partidos, que não se revia na direita mumificada. Esta ficou à espera de D. Sebastião e chegou a ver nos traços endurecidos de Aníbal Cavaco Silva, um membro do povo que tinha tudo para lhes ser estranho, a face do salvador. Como vira em Salazar.

Neste ambiente, PCP e PS dominaram tudo. Dominaram a literatura, dominaram a música, o teatro, o cinema, a fotografia, as artes, o jornalismo, a crítica, tudo. Foi preciso esperar pela agonia do século XX para esta dominação se atenuar. A revolução tecnológica capitalista pôs-lhe cobro de vez.

No século XXI, amigos meus que tinham sido comunistas desde crianças, como Miguel Portas, confessavam a sua desilusão com o comunismo e a crença numa nova esquerda. O que Miguel Portas fez, e só fez, foi tentar experiências de esquerda que escapassem à ditadura intelectual comunista. Revistas, jornais, intervenções, plataformas e, finalmente, a criação do Bloco de Esquerda. Pressagiei que as alianças entre estes esquerdistas ilustrados e estrangeirados e os radicais da extrema-esquerda e de partidos como a UDP não seria um casamento feliz. Não foi. As tensões dentro do Bloco desaguaram nas dissidências do Bloco. Assisti a isto mais ou menos por dentro e discuti isto muitas vezes. O Bloco era importante para as causas ditas fraturantes, porque o PCP era um partido ferozmente conservador e antirrevolucionário nos costumes. Tendo criado a sua moral, a sua igreja e a sua liturgia, o PCP nunca transigia. Era nisso simétrico da direita reacionária. A aliança tática entre PS e Bloco permitiu “desbloquear” certa legislação que andava pendurada há anos na boa consciência de católicos e de direitistas.

O contributo de forças como o PCP e o Bloco para a democracia portuguesa é importante, apesar destes desníveis. Mas só é importante por ter sido enquadrado e travado pelo socialismo democrático dos socialistas e a social-democracia dos sociais-democratas.

Tal como o PSD, o PS tem sofrido um desgaste e uma desvalorização intelectual preocupantes. O PS de homens como António Arnaut ou Mário Soares já não existe. Nem sequer existe o PS de António Guterres. O PS de hoje divide-se entre os socratistas, com tudo o que de nefasto essa denominação representa, os oportunistas e os apoiantes de qualquer chefe que conduza ao poder um grupo de gente que sabe que o partido precisa de lançar mão do aparelho de Estado para sobreviver politicamente. Junte-se ao caldo meia dúzia de jovens idealistas sem maturidade. À direita, o “ideologismo” (chamar-lhe ideologia seria um manifesto exagero) pseudoneoliberal de Passos Coelho e dos videirinhos amestrados, de que Relvas é a caricatura apurada, forneceu a uma gente desavinda pela História o último pretexto para a união.

Uma união que nunca se consumaria. O PS não é coletivista. Não foi. Não será. É um velho partido de católicos e de maçons que se sente ameaçado e está a jogar póquer fechado com altas paradas. E a direita de Passos perdeu esta jogada, num espanto emudecido que não provocou um texto, um pretexto, um protesto. A direita portuguesa continua a dizer: vai andando que já lá vou ter. Deixou a contestação aos jornalistas e articulistas que julga protetores do statu quo. Esta nova aliança das esquerdas descambará em novas direitas, seguramente.

A destruição do centro, à esquerda, e a insensatez de quem nos tem governado, à direita, tornaram o combate ideológico um combate tribal, como o futebol. Um combate onde não vingam a inteligência e a ilustração. Muito menos a memória. Não é preciso invocar a Europa e a sua putativa falência, ou o diktat de Bruxelas, para concluir que o PS abriu a boceta de Pandora. Convencidos de que os comunistas mudaram, os socialistas serão, como recusaram historicamente ser, chantageados por um partido que joga aqui a sua derradeira cartada da História. O comunismo acabou em toda a parte, mas não aqui, não aqui. E não acabou aqui porque a desigualdade e a pobreza que a direita exalta em Portugal como regra de vida comum, como modo operativo de um capitalismo egoísta, autodidata e desmembrado, são a bandeira do PCP. São o seu eleitorado. Juntem-lhe os funcionários públicos num país envelhecido onde todos dependem do Estado, da banca aos artistas, e temos a explicação do anacronismo chamado Partido Comunista Português. Tal como o capital, o trabalho sabe defender-se.

O Partido Socialista meteu-se nesta querela sem ter trunfos na manga. Perdeu as eleições, e isso faz toda a diferença na potestade. O PS não tem sobre o PCP e o BE um direito potestativo. São eles que o têm, e exigirão a submissão. Não sei como sairá disto. Sei que das duas uma. Ou António Costa é um génio político e submete os parceiros à sua imponderável vontade ou caminhamos para a mais grave crise de regime depois do 25 de Abril. E, talvez, para o fim do regime saído do 25 de Abril.

Quanto a mim, sou o que sempre fui. Portuguesa e anticomunista, obrigada. Nisso, não mudei."
.
NB- 
Esta peça jornalística surgiu no dia 10 de Novembro de 2015. Dois dias depois, em 12 de Novembro, a jornalista começou a ser "bombardeada" por muito boa gente...
Deixo aqui, apenas, um "apontamento" da autoria do jornalista Artur Pereira:
"São tempos apaixonantes e desafiadores. Porém, para a caprichosa pluma Clara F. Alves, profissional de bitaites, “(…) caminhamos para a mais grave crise do regime depois do 25 de Abril”, isto em texto bisnau em que nos avisa, espevitada de orgulho, como se soletrasse quadras em dia da raça, que é anticomunista.
Temos, então, que a Joana d’Arc da Artilharia 1 é um soldadinho aprumado na guerra contra a razão, especialista em propaganda em que o método é a inversão dos fatores, a inversão de todos os valores no âmbito da qual não existe mentira que não mereça a pena ser difundida.
O anticomunismo de que Clara se reclama é uma ideologia da negação que falsifica os dados e recorre à mentira. Também faz parte deste método difamar e qualificar de ingénuos e imbecis os que pensam de outra forma, algo que Ferreira Alves pratica com militante afinco.
Clara Ferreira Alves, que já foi de tudo e de todos, santanete mal-agradecida, viúva socratina, apoiante do PSD e do PS, promessa de escritora, modelo de futilidades e de um provincianismo cosmopolita desesperado, escrevinhadora no “Correio da Manhã”, o que pode explicar muito, que teve um primo clandestino comunista, diz ela, o que pode explicar outras tantas coisas, é boçal-chique e, principalmente, ignorante."

No Liceu de Castelo Branco...

... antes de uns "pontapés na bola", num dos espaços nas traseiras do edifício, a fotografia tem a data de Fevereiro de 1953. Já estávamos no 7ºAno.
.
De pé, o Victor Manuel Martins da Conceição (Saludes), o António Vinagre da Silveira, o José Simão Nunes (?) e jjmatos; em primeiro plano, o José Moura Nunes da Cruz, o Júlio Henriques Casaleiro Torres da Cruz e o Luís Marçal Grilo

12 março 2018

Humor antigo...

Com o traço de…
…autor desconhecido.
.
- Isto é para que o senhor pare de me chamar
“minha ondinha quente”, ouviu?!...
 

11 março 2018

Última hora...

Terminou há momentos, em Castelo Branco,
no Estádio do Vale do Romeiro
o encontro do Campeonato CCP - Série C, entre o 
Benfica de Castelo Branco e o ARCO Oleiros.
.
O resultado foi favorável à equipa de Oleiros.

BC Branco, 0  -  Oleiros, 1

São 3 pontos preciosos...
Parabéns...