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30 novembro 2016

Nas trevas beijo visões...

... num belo poema a que o autor 
Antero de Quental
deu o nome de
"Uma amiga"
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Antero de Quental
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Uma amiga
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Aqueles que eu amei, não sei que vento
Os dispersou no mundo, que os não vejo...
Estendo os braços e nas trevas beijo
Visões que a noite evoca o sentimento...
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Outros me causam mais cruel tormento
Que a saudade dos mortos... que eu invejo...
Passam por mim... mas como que tem pejo
Da minha soledade e abatimento!
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Daquela primavera venturosa
Não resta uma flor só, uma só rosa...
Tudo o vento varreu, queimou o gelo!
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Tu só foste fiel - tu, como dantes,
Inda volves teus olhos radiantes...
Para ver meu mal... e escarnecê-lo!
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Antero de Quental
1842 - 1891 

29 novembro 2016

A moeda das Colchas de Castelo Branco...

...da Isabel Carriço e e do Fernando Branco voltou a dar que falar!...
Desta vez, foi atribuído à "Imprensa Nacional - Casa da Moeda"
o Diploma de Honra pela Melhor Moeda de Oiro, do mundo em 2015,
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Mais uma vez os parabéns para o casal de escultores

28 novembro 2016

Faleceu o Arlindo de Carvalho..

... e dele me recordo quando, em 1952/53, ele vinha da Soalheira, com alguma frequência, para tomar café ao Arcádia, com um saudoso grupo de finalistas do 7º ano, no Liceu de Castelo Branco, que ali se reunia depois do jantar. Muitas vezes não resistia quando lhe pedíamos para cantar alguma das suas bonitas canções... Já lá vão 64 anos...
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O maestro Arlindo de Carvalho
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"O compositor e maestro Arlindo de Carvalho, autor de êxitos como "Chapéu Preto" e "Fadinho Serrano", morreu aos 86 anos, no sábado às 23:00, num hospital de Lisboa.

Segundo fonte da família, o funeral realiza-se, em data a anunciar, na sua terra natal, a Soalheira, no concelho do Fundão, na Beira Baixa.

No passado mês de maio o compositor foi homenageado na Soalheira, onde se lhe ergueu um monumento.

Em 2011, Arlindo de Carvalho recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores, reconhecendo a sua valiosa obra musical de raiz popular, como afirmou na ocasião fonte daquela cooperativa.

As suas composições foram interpretadas por nomes como Luís Piçarra, Gina Maria, Amália Rodrigues, Tristão da Silva, António Mourão, Maria de Fátima Bravo, Madalena Iglésias, Maria de Lourdes Resende, Lenita Gentil, Rão Kyao, Júlio Pereira, Guilherme Kjolner, Armando Guerreiro, Carlos Guilherme, Bjorn Ehrling, Richard Winsborough ou Maria do Ceo."
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Que descanse em paz
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NB - Deixo aqui a letra, também de sua autoria,
de uma das suas canções mais bonitas.
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"Chapéu preto
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A azeitona já está preta,
a azeitona já está preta,
Já se pode armar aos tordos,
já se pode armar aos tordos.
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Diz-me lá, ó cara linda,
diz-me lá, ó cara linda,
Como vais de amores novos,
como vais de amores novos
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Refrão
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É mentira, é mentira,
É mentira sim, senhor!
Eu nunca pedi um beijo,
Quem mo deu foi meu amor!
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Ó que lindo chapéu preto
Naquela cabeça vai.
Ó que lindo rapazinho,
Para genro do meu pai.
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Quem me dera ser colete,
Quem me dera ser botão.
Para andar agarradinha,
Juntinha ao teu coração
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É mentira, é mentira,
É mentira sim, senhor!
Eu nunca pedi um beijo,
Quem mo deu foi meu amor!

27 novembro 2016

São quadras, meu bem... são quadras!...

In "Público", em 24 de Abril de 1996
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"A humanidade tem por hábito dedicar um dia por ano a causas perdidas: à criança, à mulher, à vaca inglesa, em suma, aos perdedores". disse o escritor catalão de língua castelhana Manuel Vásquez Montalbán no dia da abertura do XXV Congresso da União Internacional de Editores, e disse mais:
" Há que viver o 23 de Abril como se fosse um verso de Bolero -- " a última noite que passei contigo..." -- conscientes de que poucas vezes temos a possibilidade de ser felizes em troca de uma dose tão pequena de auto-engano! "
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Não há Bolero que exprima
Uns "Olhos negros" que eu vi
Uma promessa falhada
E o perfume que senti...

26 novembro 2016

Os actuais "courts" ténis...

... umas semanas antes da sua inauguração.
Qualquer semelhança com o que o que existe agora naquela 
zona é difícil de distinguir.
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Foto obtida em 3 de Junho de 1973
com o Liceu em destaque e a Serra de S.Luis lá ao fundo.

25 novembro 2016

Filosofia curtíssima...

O ser humano é incrível: corta uma árvore para fazer papel para nele escrever "salvem as árvores".

24 novembro 2016

Aquelas ilusões antigas...

António Nobre referindo-se ao seu único livro publicado em vida, Só (1892), declara que é o livro mais triste que há em Portugal.

António Nobre

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Ó Virgens que passais, ao sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
que me transporte ao meu perdido Lar.
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Cantai-me, nessa voz omnipotente,
O Sol que tomba, aureolando o Mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a Graça, a formosura, o luar!
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Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu Lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas
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Que eu vi morrer num sonho, como um ai...
Ó suaves e frescas raparigas,
Adormecei-me nessa voz... Cantai!
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António Nobre
Paris, 1886.
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in. "Só"
Ed. da Livraria Tavares Martins - 1968

23 novembro 2016

Escrito na pedra...

In. “Público
21.11.2016
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O revolucionário mais radical tornar-se-á conservador no dia a seguir à revolução.”
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Hannah Arendt
1906-1975
historiadora

22 novembro 2016

Os canalhas...

...numa coluna do i, intitulada
Livro de reclamações.
Sergio Azevedo
escreveu um artigo do qual destaco
este pequeno excerto

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Sérgio Azevedo 
Deputado
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Aqueles que achavam que era Salgado o único "Dono Disto Tudo"
têm todos os dias a possibilidade de constatar que, afinal,
pulula por aí um conjunto alargado de canalhas.
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(...) O desplante e a ignomínia tomaram conta disto. Aqueles que achavam que era Salgado o único “Dono Disto Tudo” têm todos os dias a possibilidade de constatar que, afinal, pulula por aí um conjunto alargado de canalhas que não só procuram ocupar esse lugar como insistem em gozar com o pagode. Gente que se acha. Gente para quem a pátria é o dinheiro e que se aproveita do seu status para alimentar relações de poder que a colocam acima das obrigações de qualquer cidadão honrado.

António Domingues protagoniza este estado de coisas. Não é possível esperar nada de bom de um tipo que, ao convite para dirigir o banco público, para servir o país num momento difícil de viragem, apenas o aceite com a condição de ganhar mais de 400 mil euros por ano, acrescidos de uma remuneração variável que pode atingir os 50% da sua remuneração anual. Um salário que pode superar os 600 mil euros anuais. Sabemos que a situação da Caixa não é a melhor, mas num ano em que o banco público apresentou resultados negativos perto dos 190 milhões de euros, reduziu quase 50 balcões e libertou mais de 500 funcionários, admite-se que o governo promova uma administração com este tipo de remunerações? Não se admite.

Pior, admite-se que haja a suspeição da existência de um acordo (que ainda não foi categoricamente desmentido por ninguém) para que os administradores da Caixa estivessem dispensados de apresentar as suas declarações de rendimentos? Também não se admite.

Longe vão os tempos de Domingues como fervoroso militante do MRPP. Um Domingues de cabelo comprido e barras de ferro escondidas nas meias. Hoje, dizem, é um homem sem ideologia. Nada que uma gravata Hermès, um fato Canali e alguns milhões no bolso não tratem de resolver. Aliás, não deixa de ser curioso o percurso de alguns filhos do MRPP. Desde a Caixa ao Goldman Sachs, há todo um longo percurso de indivíduos a registar.

Mas então e o governo, onde fica no meio desta trapalhada toda? Onde se coloca este governo patriótico e de esquerda apoiado nas suas decisões por comunistas amigos do povo e bloquistas combatentes das injustiças? Em lado nenhum. Lava as mãos como se não fosse sua a responsabilidade de pôr um ponto final nesta situação

(...)
Cfr. jornal i
21.Nov.2016

21 novembro 2016

Liceu Bocage 1

Liceu Bocage
Ano da Inauguração
1 9 4 9
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Liceu Nacional de Setúbal, em Abril de 1960
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O ano lectivo de 1948-49 teve o seu início no primeiro dia de Outubro.

No Café Central, centro “cultural” da cidade, onde se aprendia a conhecer Setúbal e a envelhecer com Homens Velhos cheios de saber, comentava-se ainda à boca fechada, o último “escândalo” de verão que o jornal “Setubalense” ajudou a propalar... Em finais de Agosto, um título de primeira página “feriu” as sensibilidades dos leitores. “Nudismo integral nas Docas de Recreio e Comércio!” e mais adiante prosseguia: ”Todas as tardes se pratica o nudismo em grande escala...” (22 de Agosto de 1948)
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O enlace matrimonial do jovem Tenente Carvalho Fernandes foi também uma notícia deste final de Verão “Realizou-se em Fátima o enlace matrimonial de D.Maria Helena Duque de Santana, filha do sr. João José Duque de Santana, estimado empregado bancário e de D.Maria dos Anjos Neto Santana, com o sr.José Alves de Carvalho Fernandes, tenente de Infantaria 11, filho do sr. Joaquim Alves Fernandes, digno Chefe de Secção do Tribunal judicial de Setúbal e de D.Adelaide Carvalho Fernandes...” (11 de Agosto de 1948)
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Acabava de falecer uma Senhora de profundas raízes setubalenses e a notícia não deixou de ser comentada. Era assim que rezava a notícia vinda a público na imprensa local: “... realizou-se em Lisboa o funeral de D.Maria Beatriz Ahrens Teixeira de Morais Vaz, esposa de Rui Morais Vaz(...) professor da Escola Industrial Afonso Domingues.
...era natural de Setúbal e tinha 52 anos...
...era filha de D.Maria Inocência O’Neill Groot Pombo Ahrens Teixeira e mãe das senhoras D.Ana Ahrens Teixeira Caes Esteves, D.Berta Ahrens Teixeira Piçarra e D.Paulina Ahrens Teixeira Correia de Melo... (Setubalense, em 18 de Setembro de 1948)
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Em 2 de Outubro, o trissemanário informava que os “ilustres catedráticos espanhóis D.Juan Poiz-Monserrat, D.Juan Artells-Morell e D.Juan Llobet-Orts se preparam para visitar brevemente o museu oceanográfico de que é proprietário e director o ”nosso amigo” sr.Luis Gonzaga do Nascimento".
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Neste mesmo dia é noticiada a inauguração do ano lectivo, no Liceu de Setúbal. O último ano lectivo iniciado no edifício que está prestes a ser abandonado. “Presidiu à sessão solene realizada, S.Exª o sr.Governador Civil, secretariado pelos srs. Governador Militar e Vice-Presidente da Câmara...
Discursou o ilustre Reitor do Liceu, sr.Dr.António Manuel Gamito.
Depois foram distribuídos os prémios Bocage ao aluno António Augusto Macedo, do 6ºAno e o da “Liga dos Amigos do Liceu” à aluna Maria Luisa dos Santos Pinto.
Após este acto, o ilustre Chefe do Distrito fez a entrega de 35 diplomas a outros tantos alunos por terem tido média de 14 valores para cima.
Antes da sessão e após esta, o Orfeão do Liceu cantou os hinos da Mocidade e Nacional.
No final da solenidade o sr. Dr. Francisco Figueira noticiou a inauguração do novo Liceu dentro da época escolar de 1948/49.”
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Neste arrancar do ano lectivo devemos fazer uma chamada de atenção para um facto importante na vida futura do Liceu da nossa cidade.
O corpo docente passa a ter uma nova figura o Dr. José de Mendonça e Costa, homem algarvio de Marmelete (Aljezur), coração ao pé da boca, a lágrima ao pé do olho... Um bom professor, um pedagogo notável, um Homem a quem muito devo como Mestre e como Amigo.
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E sob o título “Mendonça e Costa”, o jornal, na altura, assim dizia: ”Tivemos o prazer de cumprimentar no nosso jornal, o distinto professor sr. Mendonça e Costa, nomeado para fazer parte do Corpo Docente do Liceu Nacional de Setúbal.” (Setubalense, em 9 de Outubro de 1948.)
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Poucos dias depois, em 13 de Outubro, lia-se numa página de anúncios: “Anúncio - Casa. Precisa, higiénica e ampla, na cidade ou na periferia, o professor do Liceu Mendonça e Costa.”
Creio que o Dr. Mendonça e Costa acabou por decidir-se por uma casa “fora de portas”, na periferia... onde morou até se transferir para Lisboa em 1961. Na verdade acabou por escolher para sua residência, o nº39 da Avenida Portela, num rés do chão alto, onde actualmente existe uma das sedes do Partido Socialista... Homem de vistas largas pediu no anúncio uma “casa ampla”... para ele, para a esposa e para a Maria Teresa, sua filha única que então frequentava o 4ºano do Liceu!...
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A propósito das dimensões da cidade de Setúbal, por alturas da inauguração do novo Liceu, e pelo facto de, com certa graça, se considerar na altura a Avenida Manuel Maria Portela como periferia da cidade não devo deixar de assinalar um pequeno apontamento, dado à luz em 23 de Outubro daquele ano, num dos periódicos da cidade e que se referia à longa distância a que se situava o novo edifício...
Sob o título de “Escolas” rezava assim:
“ ...Já o Liceu, (...) fica longe, mas enfim quando existirem meios de transporte, a cousa passa, mas até lá , muito se há-de aborrecer a mocidade escolar nos dias de verdadeiro temporal que costuma fazer...” (23 de Outubro de 1948)
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Em 1 de Novembro, um título na secção de Desporto: “Porto 6 - Vitória 1. Apesar do resultado, os setubalenses não foram inferiores...” Domingos Roque, o autor desta notícia desportiva, devia estar muito inspirado...
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No mesmo dia somos informados que o Dr. Rogério Claro deverá substituir o sr.José Valido Santana no cargo de Sub-Delegado da Mocidade Portuguesa, em Setúbal, por aquele ter pedido a demissão.
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Por esta altura a imprensa não era livre... Digamos que tentava manter uma independência relativamente a certas notícias. Mas, por vezes, alguns jornalistas conseguiam dizer aquilo que lhes estava vedado transmitir...
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Uma notícia respigada em 10 de Novembro noticiava um título muito atrevido seguido de uma notícia, toda ela eivada de um segundo sentido político.
A Intendência Geral dos Abastecimentos era chefiada por um homem chamado Silva Pais cujo nome se confundia com o de um outro Silva Pais, homem tenebroso e temido neste país por ser um dos “crâneos” da polícia política, a Pide. Não recordo se eram familiares (irmãos?) ou se simplesmente teriam o mesmo nome de família.
O Setubalense dá a seguinte notícia com o título:
“As brigadas do sr. Silva Pais”
“Encontram-se em Setúbal, as brigadas do Capitão sr. Silva Pais. Dizem-nos que têm actuado em toda a cidade.  Oficialmente não temos conhecimento de cousa alguma. E, nestes casos, não há nada como esperarmos notas oficiosas que ponham o público a par do que se passa e da possível verdade que possa surgir”
Ao ler esta dúbia notícia sou levado a interrogar-me se estas brigadas seriam as da Intendência Geral dos Abastecimentos... ou se ela não seria apenas uma “ temerosa alusão” às brigadas do sr. Silva Pais, da Pide. E dou comigo a pensar se não teria sido o nosso velho Amigo, sr. Guilherme Faria, a escrever com ousadia esta “arriscada” notícia...
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E logo a seguir uma outra! Três dias depois, o mesmo jornal, na página “A Cidade” e na coluna intitulada “A Abrir” noticiava o seguinte:
“Prendam o “sr. Corvo” que se introduziu em casa alheia e furtou uma carteira com dinheiro."
De igual modo penso que se trata de um título “forçado” pela redacção do jornal aproveitando o nome comum a duas pessoas... Por um lado um qualquer pequeno ratoneiro que tinho o nome de Corvo e por aí andava a fazer das suas, e por outro o chefe local da Pide, o “senhor” Corvo, homem de mão que dominava a polícia política local e cuja sede era ali para a rua dos Trabalhadores do Mar.
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(Cont.)

20 novembro 2016

São quadras, meu bem... são quadras!...

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De moderna a fama trazes
Pelos centros mais mundanos,
E, afinal, o que tu fazes
Já se faz há milhões de anos.
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in "Quadras à solta"
em "O Mundo ri" - Março/1960

19 novembro 2016

Humor antigo...

in. "Anedota Ilustrada" nº8
de Maio de 1961
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- Belo!... Belíssimo!... Ainda bem que o sapato lhe aperta! Agora usa-se um arzinho sofredor...

18 novembro 2016

Filosofia curtíssima...

"As estatísticas são como os biquinis: dão uma ideia mas escondem o essencial."

17 novembro 2016

Parabéns!... 17 de Novembro

A Maria Regina faz anos hoje.
Beijinhos e um belo dia de anos...

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Maria Regina Bidarra Santos Silva

16 novembro 2016

Hoje há pintura...

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Ticiano
Pintor renascentista italiano 
da Escola de Veneza
1490 - 1576.
A vaidade do mundo - 1515
no Museu de Munique

15 novembro 2016

A opinião de VPV...

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O Diário de
Vasco Pulido Valente
7 a 12 de Novembro, 2016
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Vasco Pulido Valente
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"Os bem-pensantes pensavam que a tolerância se fazia por decreto e retórica. 
Tiveram triste surpresa. A brutalidade de Trump respondeu ao ressentimento acumulado da populaça. 
Agora, teremos de o aturar."
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Terça-feira

Com o alarido de Trump, passou quase inteiramente despercebido o livro de dois jornalistas franceses, Gérard Navet e Fabrice de Llomme, que contam através de 100 horas de gravações directas o que foi o mandato do Presidente da França, François Hollande (" Un président ne deverait dire ça..."). O ambiente do Palácio do Eliseu era desde o primeiro dia um ambiente de hipocrisia, de calúnia, de intriga, de mentira e de grossa traição. Para já não falar das cenas conjugais (não estou a falar de sexo) que Hollande conduzia em público, na maior indignidade e que envolveram zaragatas notórias entre as sucessivas senhoras que caíram na asneira de se envolver com ele. Nos dias normais, ministros, secretários de Estado e representantes dessa espécie imunda que dá pelo nome de assessores, não faziam outra coisa senão tentar liquidar o próximo pelos métodos mais torpes da cartilha. Isto não é novo. O que é novo é que Hollande se achasse um grande chefe militar e, nessa exaltada qualidade, não hesitasse em intervir na Líbia, no Mali, na Somália e na Síria. Ou que desse ordens (que se cumpriram) aos serviços secretos para assassinar uns tantos indivíduos, que ele julgava perniciosos. Tinha uma lista, como abertamente se gabou. Mas, para portugueses, o melhor são as reuniões cúmplices e alegres em que ele combinava jocosamente com Merkel e com Juncker falsificar as contas do défice francês (que excedia largamente os 3 por cento) para ajudar a pôr os pequenos países na ordem. Hollande estava convencido que prestava assim um grande serviço à Europa. Parece que Marine Le Pen sobe nas sondagens. Como não subiria?

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Quarta-feira

Antes da revolução, a cultura dominante transbordava de “corações sensíveis” (incluindo o de Maria Antonieta), devotos da razão e de gente “honesta”, que não roubava ninguém e se vestia com austeridade para se distinguir da aristocracia da Corte. A tolerância era universal e os costumes brandos. Ninguém via como a sociedade e o mundo podiam evoluir de outra maneira. Isto em 1789. Em 1794, esta nata de bem-pensantes, com a sua tolerância e o seu grande amor à liberdade, estava toda no exílio ou na guilhotina do Terror. Ninguém naquele cintilante e humano grupo percebera que não passava de uma minoria pretensiosa, que ofendia o povo, a pequena-burguesia, a classe média e a nobreza tradicional e conservadora. Ninguém percebera também que a sua opinião era uma opinião, mas não era a opinião. Ao contrário do que pensavam, em Paris como na província, a generalidade das pessoas detestava o arzinho de superioridade daquele “modernismo” célebre, virtuoso e geralmente de algibeiras cheias. Quando chegou a altura não houve piedade com ele.

Trump escapou ao que escapou, não apesar do que disse na campanha, mas por causa do que disse na campanha. A boa da plebe andava farta de “valores” e de elevados sentimentos: só os censores do jornalismo e da política os levavam a sério. O resto da América sofria no campo, na “cintura da ferrugem” ou nas ruas da violência, onde, com ou sem Obama, começava uma guerra civil larvar. No meio deste caos, apareceu um primitivo que começou a berrar o indizível: sobre raça, sobre a igualdade de género, sobre homossexualidade e por aí fora. Os bem-pensantes pensavam que a tolerância se fazia por decreto e retórica. Tiveram uma triste surpresa. A brutalidade de Trump respondeu ao ressentimento acumulado da populaça. E a pouca política que, do lado dele, entrou na campanha foi uma exibição quase hitleriana de ódio, de raiva e de vingança. Agora, teremos de o aturar e, pior ainda, sem saber para onde ele na sua loucura nos levará. Descobrir uma coerência qualquer na série de enormidades de que o homem se aliviou é impossível. Só nos resta esperar, resignadamente, que a América se farte dele (a baixo custo) e que por milagre nós consigamos passar entre os pingos da chuva.
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Sábado

Como é que a salvação do maior banco português, por ser público e carregar as culpas de alguns governos já bem mortos e quase esquecidos, criou um problema político e jurídico, que provavelmente o vai prejudicar e, com ele, todo o sistema financeiro? Para mim o mistério desta história toda está em que não há um único culpado para o imbróglio. Parece que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças não tiveram nada com isso e que as manadas de juristas da Presidência do Conselho e da administração central estavam a dormir. Ninguém confessou um erro, uma inadvertência, uma confusão. Só os partidos (tirando o PS) se esganiçaram, segundo o seu hábito e vocação, a proclamar a sua virtude e a santa defesa do contribuinte. Como, aliás, Marcelo Rebelo de Sousa, que perpassa por detrás desta história toda, esperou para abrir a boca que o sarilho estivesse consumado: não lhe dizem nada? e ele não pergunta nada?

Mas como querem estes senhores que os levem a sério, quando um governo normal e um Presidente normal teriam tratado do assunto em meia dúzia de dias, sem desentendimentos, sem conflitos, sem a exaltada polémica que por aí consola e alimenta os comentadores? Que o problema de nomear um nova administração para a Caixa Geral de Depósitos sirva de causa e de pretexto para pôr o país num estado de indignação geral (quer a favor de Domingues, quer a favor da lei) é um sintoma da nossa incapacidade nacional e da crescente deterioração do regime em que infelizmente vivemos.

14 novembro 2016

Escrito na pedra...

In. “Público”
08.10.2015
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Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.
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Machado de Assis
1839-1908

Escritor brasileiro

13 novembro 2016

Parabéns!... 13 de Novembro

O Luís faz anos hoje...
Um abraço e um belo dia de aniversário.

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Arq. Luis Joaquim Carrega Marçal Grilo

São quadras, meu bem... são quadras!...

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Se um dia tu te esqueceres
Daquilo que te ensinei...
Esquecerei de seguida
Todo o amor que te dei...                          


12 novembro 2016

Setubalense - 1970 - Fevereiro

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07 Fevereiro
Regressou de Lourenço Marques o Sr. Ten. Coronel Ernesto do Rosário.
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07 Fevereiro
Clube Setubalense
Foram eleitos os novos Corpos Gerentes.
Assembleia-Geral:
Presidente – Dr.Estêvão Moreira
Vice-Presidente – Dr. António Emílio Sendas
Secretário – Dr. José Caldeira Areias
Secretário – José Cândido Arôcha
Direcção:
Presidente – Dr. José Paulino Pereira
Vice-Presidente – Manuel Pacheco Calanane Wengorovius
Secretário – Aurélio de Barros Rebelo Neves
Secretário – Miguel Duarte da Costa Almeida Truta.
Tesoureiro – José Gonçalves Miguens
Suplente – Eng. José Norberto Catela das Neves
Suplente – António O’Neill
Suplente – Eng. António da Silva Trigo
Comissão revisora de Contas:
Eng. Idoménio Carrilho Ramos
Eng. João Maia Barbosa
Eng. Humberto Santana Ferreira da Cunha
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09 Fevereiro
Carnaval
A cidade viveu um verdadeiro “Domingo Gordo”
Mais de 35 mil pessoas no Carnaval de Setúbal.
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09 Fevereiro
Elisa de Carvalho assina um artigo sobre o Coral Luisa Todi
“Retratando um pouco o que foi a actuação do Coral Luisa Todi, no instituto de Odivelas.”
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11 Fevereiro
O jornalista setubalense Óscar Paxeco está gravemente doente.
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14 Fevereiro
Faleceu ontem a Sr.ª D. Antónia Maria Gonçalves Delgado Loução Afonso, de 30 anos, natural de Grândola, casada com o Sr. José Álvaro Vilhena Loução Afonso.
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14 Fevereiro
Carnaval de Setúbal
O carro da Escola de Condução de Setúbal ganhou o 1ºprémio.
O carro do Liceu Nacional de Setúbal ficou em 3ºlugar.
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14 Fevereiro
Aniversário
Joaquim Manuel Mira faz hoje anos; encontra-se algures no Ultramar.
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16 Fevereiro
Modificação na praça do Quebedo para supressão da passagem de nível.
O município está em negociação com os proprietários de dois prédios na rua Manuel Neves Nunes da Silva, os Srs. Adelino Luís Resende e Ten. Coronel Manuel de Andrade Fernandes.
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18 Fevereiro
Óbito
Faleceu ontem o jornalista Óscar Paxeco, no hospital de Arroios. O seu corpo foi amortalhado no hábito de Irmão Terceiro da Ordem de Nossa Senhora do Carmo.
Natural de Setúbal, onde nasceu em 10 de Agosto de 1906, Óscar Paxeco, de seu nome completo Acácio Óscar Batista Pacheco, frequentou o Liceu desta cidade até ao 5ºAno, ingressando depois no Seminário de Santarém onde permaneceu três anos.
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18 Fevereiro
Francisco Lourenço Biscaya Lino da Silva faz hoje anos e encontra-se em comissão de serviço no Ultramar.
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18 Fevereiro
Falecimento
Dr. José de Albuquerque Pimentel e Vasconcelos Soveral.
Faleceu na madrugada de hoje, na sua residência em Setúbal.
Desempenhava as funções de conservador do Registo Civil. Tinha 65 anos e era natural de Fornos de Algodres.
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23 Fevereiro
José Cândido está demissionário da presidência da A.A.S. (Associação de andebol de Setúbal por desrespeito da Federação.
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25 Fevereiro
O trânsito de veículos nas ruas Álvaro Castelões, e do Romeu constitui um perigo permanente.
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28 Fevereiro
O pintor setubalense Silva Lino inaugurou na Sociedade Nacional de Belas Artes, uma exposição de pintura que está patente ao público até 11 de Março de 1970
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28 Fevereiro
Atletismo
Maria Adelaide Marques estabeleceu mais um record nacional, no salto em comprimento, com 4,78m


11 novembro 2016

Humor antigo...

in. "Anedota Ilustrada" 8
de Maio de 1961
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- Quanto ao amor desinteressado, estamos de acordo, 
porém quem o financiará?!...

10 novembro 2016

09 novembro 2016

Hoje há pintura...

  Gustav Klimt
        1862 - 1918
Pintor simbolista austríaco.
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Margaret Stonborough-Wittenstein (1905)
- Nova Pinacoteca de Munique -

08 novembro 2016

Filosofia curtíssima...

"Custou-me muito a aprender a escrever correctamente. Até que um dia adquiri um telemóvel e... iskeci td."



07 novembro 2016

A opinião de VPV...

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O Diário de
Vasco Pulido Valente
31 de Outubro a 5 de Novembro

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Vasco Pulido Valente


Segunda-feira

Dizem que por pressão de Angola e dos negócios do petróleo, Portugal aceitou a Guiné Equatorial (um antigo protectorado espanhol) na CPLP. A Guiné Equatorial é uma ditadura, governada desde 1979 à maneira norte-coreana, por um indivíduo chamado Teodoro Obiang e pelo filho Teodorino Obiang, um gangster internacional procurado pela polícia francesa. Neste paraíso dos direitos do homem continua a existir pena de morte e a máquina de repressão que produz para o pai Teodoro maiorias de 98 por cento dos votos. Muito bem, não se pode pedir perfeição a toda gente. Mas talvez se pudesse pedir ao Estado português, que se rege teoricamente por outros princípios, que não admitisse a Guiné Equatorial na CPLP, tanto mais que a população só fala francês, vagamente espanhol e umas tantas línguas tribais. Não foi esse o parecer das cabecinhas que nos pastoreiam. Pior ainda, sem discutir a coisa (e nem sequer a revelar), o primeiro-ministro e o Presidente da República resolveram agora, por sua alta recriação, propor que, como na Commonwealth, os naturais de qualquer país da CPLP gozassem em Portugal dos mesmos direitos dos portugueses (incluindo o direito à residência). Não é preciso ser bruxo para perceber que esta enormidade (que viola Schengen e vai irritar profundamente a “Europa”) tresanda a petróleo ou a negócios de petróleo. Nós sempre vivemos numa pobreza envergonhada. O dr. Costa e o dr. Marcelo perderam a vergonha.


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Quinta-feira

É celebrado este ano o centenário de uma pessoa de que hoje ninguém se lembra e que ninguém lê, Mário Dionísio. Foi um mau poeta, um mau romancista, um mau pintor de fim-de-semana e, principalmente, um mau crítico. Mas no cume do antifascismo, logo a seguir à guerra, foi também o “controleiro” do PC para o “sector intelectual”. Quando Cunhal, já preso, exigiu aos pobres literatos portugueses o estrito acatamento dorealismo socialistade Jdanov, Mário Dionísio saiu do partido, mas ficou até ao fim da vida um “simpatizante” convicto. Conheci muito bem o indivíduo. Primeiro, como professor de literatura portuguesa no Colégio Moderno de João Soares (avô) e, depois, porque os meus pais, igualmente devotos da seita, eram amigos dele. À sexta-feira, havia sempre uma reunião em casa de Mário Dionísio, cuja função era discutir a “linha correcta” para o PC, os “desvios” ideológicos da “inteligência” indígena e, lateralmente, as malfeitorias da Ditadura. Faziam parte deste grupo João Cochofel e a mulher, a pianista Maria da Graça Amado da Cunha e o marido (Roger de Avelar), o erudito excêntrico Huertas Lobo (*)  e uma ou outra figura de passeio. A partir dos doze, treze anos, comecei a ser arrastado para esta catequese e passei muitas noites – calado e quieto – a ouvir aquela gente perorar.

Mário Dionísio, como é evidente, presidia. Os meus pais mal abriam a boca: a minha mãe não tinha qualquer qualificação formal e o meu pai não passava de um engenheiro químico, ainda por cima director de uma empresa. Mas, calados que estivessem, não escapavam à crítica do seu estilo de vida. Tiveram de prometer não gastar mais do que ganhava um funcionário de Estado médio, não usar o carro em viagens de prazer e não me vestir luxuosamente. O povo passava fome e um bom comunista não devia viver como um milionário. Foi assim que, com muita raiva minha, usei calça curta e casacos voltados durante o liceu inteiro, ou quase.

Fora isso, Mário Dionísio, justiça lhe seja feita, defendeu meia dúzia de escritores contra a fúria jdanovista do tempo, entre os quais José Cardoso Pires que me descreveu mais tarde os tremores com que tinha ido apresentar Os Caminheiros ao sumo sacerdote da ideologia. Como seria de esperar, Dionísio acabou a presidir à “comissão de saneamento” do Ministério da Educação. Toda a vida se preparara para esse nobilíssimo papel. Quando o meu pai morreu, deixou um quadro de Mário Dionísio: não houve leiloeiro ou ferro-velho que lhe pegasse.

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(*) José Ferreira Huertas Lobo foi professor de Desenho no Liceu Nacional de Setúbal, nos anos-lectivos de 1963/64 e de 1964/65 (teria 50 anos). Era, de facto, muito excêntrico... e, quase sempre, alvo da "chacota" dos alunos... mas "não só"!...

Escrito na pedra...

in." Público"
06. Nov. 2016
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"O homem poderoso que junta a eloquência à audácia torna-se um cidadão perigoso quando lhe falta o bom senso."
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Eurípedes
480 a.C. - 406 a.C.
dramaturgo da Grécia Antiga

06 novembro 2016

São quadras, meu bem... são quadras!...

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Se a luz da Lua partisse
Ficaria sem te ver...
E logo que eu não te visse
Preferiria morrer!...                          

05 novembro 2016

Paulo Ferreira...


... começou a escrever no "ECO - Economia on line".

"Estreei-me hoje no ECO. A coluna chama-se "Dias assim" e vai olhar para os principais temas da semana. Críticas e sugestões são sempre bem vindos." (04.11.2016)

Haverá maior sintoma de que continuamos numa crise profunda 
do que ver a nossa existência e utilidade reduzidas 
à tentativa de escapar a nova bancarota?
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Paulo Ferreira
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Quarta-feira
A saga da La Seda não diz nada à generalidade dos contribuintes. Mas todos vamos agora pagá-la através da Caixa Geral de Depósitos. Neste dia, ficámos a saber que esse investimento pode custar 900 milhões de euros ao banco público.

O que correu mal? Tudo, a começar pelas decisões de crédito da Caixa politicamente orientadas. O banco começou por deter uma posição minoritária de 4% mas desde aí não mais parou de reforçar no capital, de conceder ou garantir empréstimos de centenas de milhões. Até ao colapso.

Este foi um daqueles investimentos-bandeira da era Sócrates: uma fábrica de produtos químicos de 400 milhões de euros, de Sines para o mundo.

Vale a pena recuar oito anos até ao dia 13 de Março de 2008, quando foi feito o lançamento da primeira pedra, a merecer, claro, honras de governo, de telejornais e de promessas de futuros radiosos.

José Sócrates, primeiro-ministro: “É um investimento para colocar Portugal na rota e no mapa da economia global do sector petroquímico e que se destina a vender para todo o mundo, e a fazê-lo com valor acrescentado”; “O Estado português tem bem consciência do que Sines significa e, por isso, algumas obras são decisivas para Sines e para o país. Teremos aeroporto de Beja até ao final do ano” [prova de que uma desgraça nunca vem só].

Manuel Pinho, ministro da Economia: “vai exportar cerca de 500 milhões de euros por ano e criar cerca 400 empregos directos e indirectos contribuindo também para atrair outros investimentos para a região”.

Faria de Oliveira, presidente da CGD: “é um investimento eminentemente instrumental para apoiar a economia nacional e o investimento industrial”.

Três anos depois, a troika estava a caminho. A Caixa permanece nos cuidados intensivos..

João Ruivo...

...escreveu o Editorial da revista 
"Ensino - Magazine"
publicado em Out.2016
ao qual deu o título
"O rei, o pirata e o professor"
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.João Ruivo
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"Era uma vez uma parábola que se narrava mais ou menos assim:

Numa ilha distante governava um rei amigo da folia, da boa mesa, da riqueza dos bens terrenos e cuja honra não lhe permitia trabalhar.

Desonra era também que os seus familiares e o vastíssimo séquito de seguidores ousassem ganhar proventos pela labuta do dia-a-dia, que era considerada coisa menor, desprezível, imprópria e apenas vocacionada para os que não tinham tido a sorte de se acolherem no colo do poder. Ou seja, trabalho era ofício dos mandados e desmérito dos mandantes.

Para suprir aos gastos do lazer e da abastança, o rei lançava frequentes e cada vez mais pesados impostos, taxas e portagens sobre os que dependiam dos rendimentos da sua árdua labuta.

Os mares que rodeavam a ilha estavam infestados de piratas que assaltavam e roubavam a seu belo prazer qualquer barco que deles se aproximasse (mesmo algum em aflição e busca de ajuda…) e com demasiada frequência invadiam as aldeias das costas para pilharem os parcos haveres dos incautos cidadãos. Por essa via, acumularam bens e riquezas incalculáveis, dinheiro fácil, terras, mordomias e isenções fiscais. Porém, quando em terra, com as suas famílias, faziam-se passar por discretos e honrados citadinos, cuja muita faina e alguma sorte tinham abençoado o seu destino.

Como os gastos do rei e dos mandantes crescessem na proporção directa da sua ambição, e os proventos já raramente chegassem para as permanentes despesas, começou a ser costume que a corte solicitasse aos piratas empréstimos, que estes lhe cediam em troca de favores inconfessáveis e juros incalculáveis.

Esta passou a ser a regra da convivência pacífica entre a corte e a piratagem, o que levou à criação de um modelo de sociedade, ferozmente defendido, estudado, elogiado, e publicitado em vastíssimas obras pelos escrivães ao serviço do reino.

Um dia, porém, eis senão quando a ganância dos piratas no uso e abuso das embarcações para as contínuas investidas em navios, terras e gentes os fez distrair, não calculando atempadamente o furor de uma tempestade que, num só dia, devastou a frota, e os deixou depenados e sem meios de prosseguir o corso.

Perante tão imprevista desgraça, chegou a vez dos piratas se aproximarem do rei falido, anunciando-lhe que nesse mesmo dia findavam os empréstimos e, por isso, pediam a ajuda do poder: era preciso muito dinheiro para reconstruir a armada e recapitalizar os corsários. Sem isso, estes não podiam acumular novamente riquezas e bens que lhes permitissem voltar a financiar a abastança do rei e da sua corte.

O rei, pensando bem no modelo e regras de convivência pacífica que durante tantas décadas tinham guiado o seu reinado e tantos elogios mereciam dos seus mais iluminados escribas, decidiu reabilitar os piratas e enviou para os campos as suas milícias para forçadamente recolherem mais impostos, taxas e portagens aos trabalhadores, e obrigando mesmo à apanha de galinhas, ovos, gado e forragens, que merecessem ainda algum valor de troca nos mercados tradicionais.

Com essa sábia decisão, e apesar da agonia lenta dos ofícios, dos artesão e dos mesteirais; apesar do progressivo abandono das terras e oficinas; apesar da fome, da doença e da extrema pobreza em que mergulhou o reino; apesar de tudo isso, o rei, a sua corte e os piratas conseguiram estabilizar as suas economias e regressar ao afamado modelo de normalidade com que as suas vidas sempre tinham sido bafejadas.

E o professor? Perguntarão os mais atentos ao título desta parábola.

Como o rei e a corte convenientemente perceberam que os piratas, apesar de incultos e iletrados, tinham angariado fortuna e estatuto sem o recurso aos ofícios das letras, das artes e das ciências, mandaram de pronto fechar a escola e estancar essa inútil despesa. Porém, não fosse o professor criar algum incómodo público, ou mesmo algazarra, por se sentir desnecessário, desmerecido e indevidamente desocupado, desterraram-no para uma inóspita costa e obrigaram-no a sentar-se num penhasco, virado para o mar, a ver passar navios."

NB - João Ruivo é Professor Universitário (Professor Coordenador aposentado), foi Vice Presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco (Portugal), é Colaborador nas Universidades da Extremadura e de Salamanca (Espanha) e nos Institutos Politécnicos de Castelo Branco e de Leiria (Portugal). Membro da Comissão Coordenadora do Conselho Científico do Centro de Investigação em Políticas e Sistemas Educativos (CIPSE) do Instituto Politécnico de Leiria (Portugal).
É Director Fundador do Jornal “ENSINO MAGAZINE”.