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16 agosto 2015

É bem bonito...

... o texto que a "jornalista e escritora"
Isabel Stilwell
nos deixou ontem na sua página de sábado no
Jornal i.
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Isabel Stilwell
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Transcrevo apenas um breve excerto desse texto.
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"... no verão de 1969, tinha eu nove anos, quando o pai das minhas melhores amigas construiu uma piscina em casa e decidiu que me ia ensinar a nadar. O tio Augusto tinha olhos azuis cintilantes, uma gargalhada contagiante, e ainda hoje sei de cor "O Circo Desceu à Cidade" que cantávamos nas viagens, mas não suportava pieguices, e quando se zangava, zangava mesmo. Por isso, se queria que nadasse, eu nadaria, engolindo o medo, agarrando-me à esperança de que no final se orgulhasse de mim! Resultou. Entusiasmada aprendi a mergulhar, a saltar da prancha, mais tarde a descer no escorrega e, pelo meio, a andar de bicicleta e de burro. Enquanto isso, a tia Mi geria com generosidade os efeitos secundário de ter uma piscina, coisa rara na altura, acolhendo aqueles que apareciam inesperadamente, fugindo da neblina que caía, (de novo) ao fim da tarde na praia. Lembro-me bem da limonada e das fatias de pão saloio, quente e com manteiga.
Quanto a mim, tratava-me como uma filha adoptiva. Que foi ficando de Verão para Verão, de ano para ano.
Aos 93 anos, está tão bonita como sempre, sem um cabelo fora do sítio, e falamos dos temas mais improváveis, espantando-me com a abertura de espírito que juraria que não tinha então, sem que deixe de lado os seus preconceitos, que agora já só me fazem rir (a mim e a ela). Há dias voltei a encontrá-la, não seria verão se a filha adoptiva não voltasse à casa paterna e, no final da conversa, disse-me sem dramas: "Sempre gostei muito de si, e vou gostar até morrer . Nesse dia chora umas lágrimas sentidas por mim?". Jurei-lhe que sim. Mas a eternidade que conquistou em mim, não está nas lágrimas, mas nas memórias e na gratidão, que ficam sempre. Quanto às minhas netas, voltam muitas vezes à mesma piscina, acolhidas como eu fui. Faz-lhes falta, como me faz a mim, o melhor dos professores."
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Creio que, também eu, "nesse dia", possa contar com muita gente a quem poderei pedir umas lágrimas sentidas...

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