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18 outubro 2013

Sempre "aquilino"...

... e hoje com alguma razão.
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Na coluna de “Opinião”, de Vasco Pulido Valente, no “Público” de hoje, 18/Out. surge hoje um texto a que autor deu o título: 
"Os clássicos da Sá da Costa"
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Vasco Pulido Valente

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Há os que dizem sim e há os que dizem não. Mas, de um e outro lado, todos dizem o mesmo, com as mesmas palavras e com as mesmas razões.
Todos se repetem, simultânea ou alternadamente para chegar à mesma conclusão. Basta ouvir a primeira frase para se perceber onde a conversa vai parar e por que espécie de caminho.
O português sem gramática que se usa na televisão e nos jornais desceu à “língua de pau”. A língua de pau” costumava ser um exclusivo do Partido Comunista, agora é a língua quase oficial da política , uma pasta mastigada e remastigada, que não exprime nada nem convence ninguém. Só prova, com enorme abundância e variedade, a iliteracia crescente dos preopinantes que persiste, contra o senso e a inteligência, em falar e escrever para um público cansado e mudo.
Foi por isso que me lembrei hoje da Livraria Sá da Costa, que faliu sem ruído ao fim de um século de serviço. No tempo das tertúlias, que desapareceram por volta de 1960, a tertúlia da Sá da Costa, apesar dos seus créditos de oposição, nunca conseguiu realmente competir com a da Bertrand, onde o “glorioso mestre Aquilino”, como lhe chamavam, era a grande atracção. Mas, no meio da sua relativa modéstia,  a Sá da Costa prestou um incomparável serviço ao país: durante anos, volume a volume, publicou a melhor colecção de clássicos (devidamente anotada) que algum dia por cá apareceu. Do século XVI para a frente não faltava um único autor dos que mudaram e moldaram o português que hoje se usa. Para medir bem a nossa pobreza literária os “clássicos Sá da Costa” foram um instrumento único.
Pouco a pouco, as dificuldades da livraria desfizeram a colecção. O Estado poderia ter subsidiado a coisa. No Ministério da Cultura existia, de resto, um instituto (criado por mim, para mal dos meus pecados) que servia perfeitamente para o propósito. Só que a gente que o dirigiu escolheu sempre actividades que lhe permitiam dar ar à pluma e adquirir uma ínfima importância, passageira e espúria. O denominado Plano Nacional de Leitura é fantochada, pedagogicamente inútil, mas que ajuda a criar empregos (no Estado, está claro) e a distribuir uns dinheiritos por umas dezenas de analfabetos com necessidades
Não admira que Angola e o Brasil nos tratem como tratam
A famosa “língua comum”, objecto de tanto palratório, apodreceu.

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