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24 dezembro 2012

A cobardia...


Afinal os velhos são mesmo trapos.
Na coluna “Opinião”
De Vasco Pulido Valente
In. Público – 22 12 2012
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Vasco Pulido Valente
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Tenho 71 anos. Começo por isto para que se saiba de que lado estou na presente polémica sobre a “contribuição extraordinária de solidariedade” que o Governo tenciona impor aos reformados da função pública, com o tradicional propósito de tapar um “buraco” qualquer.
Embora ele não fosse o único responsável do desastre, há muitas razões nesta particular matéria para condenar Pedro Passos Coelho, um primeiro-ministro incoerente, hesitante e com uma grande trapalhada na sua pobre e pequena cabeça. Há, antes de mais nada, uma razão moral: Passos Coelho escolheu a parte mais fraca e indefesa da sociedade para suportar os custos de uma política que iria fatalmente acabar mal, como toda a gente o preveniu. Abusar dos fracos não é com certeza o acto de um homem estimável.
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O primeiro-ministro atacou os mais fracos...
... e isso é cobardia!
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Depois da brutalidade vem a hipocrisia.
Porquê pedir “solidariedade” aos velhos, que mal se mexem, e a mais ninguém
Será que os velhos carregam culpas que os mais novos não carregam? A culpa das desordens de 1960-1970, a culpa do PREC, a culpa da famosa “dissolução da família”, a culpa de uma vida de luxo e de prazer ou máxima culpa de falência do Estado democrático
Ou devem os velhos pagar um tributo adicional aos novos só por serem velhos?
Também a mentira de que a contribuição “extraordinária” agora sugada sem aviso não engana nenhum português maior e vacinado: a contribuição acabará por se tornar “ordinária” e ficará firme até à bancarrota final. 
O dr. Passos Coelho, ou quem manda nele, nem sequer pensou em arranjar uma linguagem menos jesuíta para retirar o conforto e a segurança à maioria dos velhos.
Domingo passado, o autor destas tropelias andou por Penela e pela RTP – Porto a justificar o injustificável. O argumento dele é – acreditem - o de que as “pensões” dos “queixososnão correspondem ao “valor dos descontos que fizeram”. Muito bem: admitamos, por hipótese, que o homem teve um sobressalto lúcido e, por uma vez, disse a verdade. Mas mesmo assim não se lembrou de dois pontos fundamentais. Por um lado, o de que os “fundos de pensões”, sensatamente administrados, são como um grande banco de que se espera um contínuo crescimento do capital e dos rendimentos. Por outro, o de que uma considerável minoria não teve de facto uma “carreira contributiva”, mas porque não existia na altura, nem trabalho, nem um estado social que lhe exigisse e aceitasse um “desconto”.
O dr. Passos Coelho precisava de uma certa dose de juízo. 
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NB - Um foi para Paris e espera ansioso que nos esqueçamos dele... Bem pode tirar o cavalinho da chuva se está à espera disso! O que ficou quer, à força toda, que não nos esqueçamos dele... mas da pior maneira!!...

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