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08 abril 2010

Uma notícia no "Setubalense"...

Faz hoje 40 anos!...
Na 1ªpag. do "Setubalense", posto a circular à tardinha do dia 8 de Abril de 1970, uma notícia que, ao fim de todos estes anos, continua a ser uma memória muito importante na minha vida.


“A cerimónia de posse do Sr. Dr. João José Mendes de Matos, no cargo de vice-presidente da Câmara Municipal de Setúbal, ocorrida na passada 4ªfeira e à qual se dignou presidir o Sr. Dr. José Cardoso Ferreira, chefe do distrito, decorreu em ambiente de grande expectativa, vendo-se entre os assistentes, as mais categorizadas entidades da nossa cidade bem como o governador civil substituto e diversos presidentes das Câmaras Municipais.

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O Sr. Dr. Cardoso Ferreira encontrava-se ladeado pelos Srs. Drs. Manuel Seabra Carqueijeiro, delegado distrital da Acção Nacional Popular; Eduardo Albarran, presidente da Junta Distrital de Setúbal; Manuel José Constantino de Goes, presidente da Câmara Municipal de Setúbal e pelo empossado.
Após o chefe do distrito, bem como os Srs. Drs. Constantino de Goes e Seabra Carqueijeiro terem pronunciado discursos, nos quais exaltaram as qualidades de trabalho do empossado, o Sr. Dr. João de Matos agradeceu as referências elogiosas com que havia sido distinguido, afirmando a certa altura:
“Cabe-me pronunciar algumas palavras nesta cerimónia de posse, e as primeiras servirão decerto para agradecer a V.Exª, Senhor Governador Civil, as palavras imerecidas, as palavras amáveis, mas acima de todas, as palavras realistas e amigas que teve a bondade de me dirigir.
Desejo que fique bem expresso neste momento, o meu público reconhecimento relativo à confiança que em mim depositou, ao propor o meu nome para o desempenho do cargo, em que acabo de ser empossado.
Não creio ser necessário recordar que pertenço a uma geração, igual a tantas outras antes e depois da minha, cuja educação política se resumiu, praticamente, à leitura de um Martins Afonso, alguns dias antes do exame de Organização.
No entanto, e mercê de uma formação marcadamente positiva, em que a interpretação dos factos nunca é feita sem que o objecto seja observado segundo os mais diversos ângulos e nos seus mais variados aspectos, defini para mim uma posição que, dentro de uma flexibilidade sempre aconselhável, tem sido permeável às boas iniciativas e a todos os movimentos que visem a elevação do nível cultural, o aumento do nível económico e a melhoria do bem-estar social das populações.
Posso afirmar sem correr o risco de molestar a consciência, que tenho permanecido à margem da vida política, sem experiência alguma da vida pública. Mas é precisamente isso que eu penso constituir uma vantagem na situação de facto em que, a partir de hoje, me passo a encontrar.
Não sou nem nunca me considerei um Homem – Politico.
Mas se é política trabalhar, se é política dignificar uma função que nos é entregue, se é política defendermos até ao último argumento, os interesses de uma colectividade por mais restrita ou ampla que ela se apresente então, nesse caso, terei até muito prazer que me considerem como tal.
O tempo é de luta! As batalhas que vão seguir-se no desenvolvimento económico do país serão mais animadoras se todos lutarmos e se novos efectivos forem chamados a prestar serviço nas fileiras.
Pode V. Ex.ª Senhor Governador, transmitir ao Governo que aqui representa, que urge, a todo o tempo, recuperar atrasos, que se torna necessário uma consciencialização política dos jovens que despontam, que importa uma formação acelerada de quadros dirigentes, mas interessa sobremaneira dar uma oportunidade à Juventude consciente da Nação.
Quantos valores se perderam?
Quantos valores esquecidos não teriam deixado de prestar o seu contributo!
Pois creio que é chegada a altura de interessar nos assuntos que são de todos nós, essa Juventude silenciosa que acabará por chegar mais tarde ou mais cedo, a conclusões próprias, tantas vezes distorcidas, mercê de uma óptica colorida que deformas num só sentido.
E sobre essa Juventude interessada e responsável, é que importa alicerçar devidamente os caminhos do futuro.
A V. Ex.ª, Senhor Presidente da Câmara, gostaria também de apresentar os mais sinceros agradecimentos pela honra que me conferiu ao escolher-me para seu primeiro colaborador.
Quando no início de Outubro de 1959 me apresentei em Setúbal, de posse de uma nomeação que me permitia leccionar no Liceu, eu apenas desejei ter a possibilidade de poder manter-me na Cidade, por motivos de ordem familiar.
(…) O facto de não ter nascido nesta Cidade à beira do Rio Azul, teria sido motivo de reflexão aturada, por parte da Entidade que tivesse de decidir sobre a escolha de um futuro Vice-Presidente da Câmara.
E se V. Ex.ª, Sr. Presidente, achou que deveria ser eu a pessoa indicada para o desempenho dessa função, devo supor que desde há muito me considera seu conterrâneo.
Também esse público reconhecimento, eu aqui lhe quero agradecer.
É V. Ex.ª, por formação, devotado às coisas do ensino, e não creio que estes anos de afastamento lhe tenham feito perder as boas qualidades de professor que sempre foi.
Vai ter oportunidade de poder trabalhar um aluno incipiente, nestes assuntos da Administração.
Mas se é uma condição fundamental, no bom rendimento pedagógico que exista uma total aceitação do Professor pelo Aluno, que haja um respeito mútuo e um mútuo à vontade nas suas relações lectivas e para lectivas, e que exista uma perfeita consciência dos fins a atingir, eu posso adiantar, na minha qualidade de discente, que V. Ex.ª terá um rendimento invejável.
Será tudo uma questão de tempo.
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No “Distrito de Setúbal”, semanário publicado uns dias depois, retirámos dois pequenos apontamentos:
“Estiveram presentes também, o Sr. Victor Brito de Sousa, governador Civil substituto e quase todos os presidentes da Câmaras Municipais do distrito, todas as autoridades concelhias, o Reitor do Liceu, muitos professores, funcionários da Câmara, amigos e alunos do empossado.”
(…)
“Depois de agradecer a honrosa escolha, teceu judiciosas considerações acerca do desempenho do novo cargo, prometendo cambiar a sua posição de professor, aliás bom professor dizemos nós e testemunham-no a falange dos seus alunos presente no acto, pela situação de aluno junto do Sr. Presidente da Câmara, Sr. Dr. Constantino de Goes.
O empossado foi, no final, cumprimentado pelas numerosas pessoas que assistiram ao acto de posse.”

...e já se passaram 40 anos!

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