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31 março 2010

Largo da Paz...

Recebi há dias uma carta da minho colega de curso Maria Filomena Leite Gomes. Que lhe agredeço penhorado...
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Esta carta da Filomena "faz um pouco de História". Um pouco da História de um Lar que conheci de perto. Há 50 anos... Só por isso lhe peço desculpa por dar a "publicidade" que é devida ao seu "documento".

A carta:

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"Porto, 18 de Março de 2010-03-20
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Caro colega e amigo João
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Possivelmente vai ficar admirado com esta carta… mas explico já a razão da escrever. Desde 27/Set./2008 tenho andado à procura de algo que fizesse recordar o almoço –“bodas de oiro” dos finalistas da F.C.U.P.
Através da Fernanda Ferreira tive acesso ao que o João deixou na internet… e uma pessoa amiga imprimiu. Quero agradecer-lhe pela alegria que me deu e dar-lhe os parabéns pelo trabalho realizado.
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Entrei para o lar das Doroteias em 54 e, no 1ºano partilhei o quarto com a Ana Máxima, a Fernanda e a Margarida Rato (hoje médica pedo-psiquiatra). A partir do 2ºano passei ao andar superior do Lar fiquei no quarto com a Rosa Guerreiro andar onde também esteve a sua Maria de Lourdes. Sinto uma profunda dor por saber que a sua Mulher já não está entre nós, assim como a Rosa, a Ana Máxima e a nossa Directora, Madre Margarida Moreno. Até há pouco, a nossa VALPER continuava viva com os seus...
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...88 anos. Mando-lhe esse livro através do qual consegui localizar a Madre Valente-Perfeito.
A Fátima Ibeche deu-me a sua direcção e por isso me lembrei de lhe escrever.
Bem haja pela sua ideia.
Faço votos de boa saúde para si e para os seus a quem envio um abraço amigo e desejo que deus vos conceda as suas melhores bênçãos.
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Maria Filomena (Pires Leite Gomes)"
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O grupo de alunas que em 1957/58 residiam no Lar das Doroteias.
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Com a Directora, Madre Margarida Moreno e com a Irmã Maria Rita Valente-Perfeito, destacamos entre outras a Ana Máxima Romão de Melo Machado (1ªfila - 2ª à dir.), a Maria Amélia Souto Teixeira (1ªfila - 1ª à esq.), a Rosa Guerreiro (4ªfila - 5ª à Dir.),
Dispersas no conjunto identificamos a Filomena Gomes, a Fernanda Ferreira, a Maria do Amparo Silva, a Olema, a Maria del Carmen, etc.
Não vejo neste grupo a Maria de Lurdes Macedo mas imagino-a como fotógrafa, fazendo esta foto. Eu não tinha esta fotografia...
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O mesmo grupo, agora na escadaria principal do "palacete" do nº10, do Largo da Paz.
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A Ana Máxima (2ªfila - 1ª à esq.), a Maria de Lurdes Macedo (última fila - 3ª, com óculos), a minha colega Maria do Amparo Silva (abraçando o candeeiro) e, entre muitas outras, a Directora Madre Margarida Moreno.
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Entre a Rotunda da Boavista e a Igreja de Cedofeita, muito próximo do Liceu Normal D.Manuel II, situava-se o largo da Paz, onde se erguia, no meio de um pequeno bosque, o palacete onde funcionou, durante anos, como Lar feminino - o Lar das Doroteias.
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A localização do Lar das Doroteias - no Largo da Paz, nº10
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A Filomena enviou-me também uma foto do portão do palacete onde funcionou o Lar da Doroteias. Já nem "isto" existe actualmente...

O portão do Largo da Paz, nº10, Porto, já com o edifício onde funcionou o “Lar de Nossa Senhora da Paz” - Lar das Doroteias - a ser destruído!
Nesse “lugar” surge um edifício de Seguros. Resta o “espaço” onde a Ana Máxima guardava o seu “carocha” – uma mini garagem que se mantém ainda na rua Ricardo Severo!
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As finalista do Lar das Doroteias em Maio de 1958
no 1ºplano: Maria del Carmen (Farmácia) e Maria de Lurdes Macedo (Farmácia); no 2ºplano: Fernanda Ferreira (Ciências Biológicas), Rosa Guerreiro (Farmácia), a Directora do Lar, Madre Margarida Moreno, Maria Amélia Souto Teixeira - Mimé (Farmácia) e a Maria Filomena Gomes (Ciências Biológicas).
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E as respectivas caricaturas no Livro de Curso de 1958, acompanhadas por um "apontamento" poético que Valper não "perdoava"... :
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Maria del Carmen Lourenço Esteves
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Apontamento poético de Valper:
"A Ciência concentrada
Em poucos dias, no fim
Fez do teu curso - jogada
de "buena dicha" sem fim..."
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Maria de Lurdes Macedo
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Apontamento poético de Valper:
"Timidez, simplicidade
E muito bom coração
Já sabem, não é verdade?!
É a Lourdes do João..."
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Maria Fernanda da Costa Ferreira
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Apontamento poético de Valper:
"Querem uma aposta?!
Esta doutora
Vai se famosa
Por ser tão sabedora,
E vai ser feliz
Pela vida fora...
Deus o há-de permitir
Pois ela vai sorrir
Ao que Ele quiser..."
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Rosa da Conceição Guerreiro Lopes

Apontamento poético de Valper:
Diz-se que as rosas têm espinhos....
Eu sei duma que os não tem!
Vai seguindo nos caminhos
Da vida, sem destinos
Serena e firme no Bem!!"

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Maria Amélia Rosendo Souto Teixeira - Mimé
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Apontamento poético de Valper:
“A Vida por um canudo
Tem para ti o valor,
De teres alcançado tudo
Com muito pouco suor…"
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Maria Filomena Pires Leite Gomes

Apontamento poético de Valper:
De vez em quando
Lá faz o seu banzé…
Mas no geral
Vive na tranquilidade,
Não tem pressa
E faz esperar a maninha
(Não é por mal…)
Uma eternidade!"

. A Ana Máxima não está nesta fotografia mas também foi finalista durante esta ano.

A Ana Máxima Romão de Melo Machado

Apontamento poético de Valper:
No coração – uma Fé.
Na vontade – um só querer.
É sempre aquilo que é.
E nada mais quer parecer.

A Ana Máxima era a bondade em pessoa. Era de uma bondade activa.
“Tinha um amor pelos pobres e por todos aqueles a quem a desgraça visitava que chegou a atingir os cumes do heroísmo.”
“As pedras, as vielas do Barredo e muitas “ilhas” do Porto, podem contar o que viram quando a menina “Aninhas” por lá andava.”
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A Ana Máxima era uma das nossas “primas” de Oleiros, filha da prima Clotilde Romão, também ela licenciada em Farmácia, no Porto e farmacêutica em Viseu. Tal como o marido, Dr. Arnaldo de Melo Machado.
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A Ana Máxima licenciou-se no Porto, no dia 29 de Julho de 1958. Casou em Fátima em 8 de Agosto e faleceu em Viseu, na manhã do dia 19 de Janeiro de 1959. Tinha acabado de fazer 26 anos… Deixou-nos uma saudade imensa.

A "prenda" que a Filomena acaba de me oferecer, ficou um pouco para o fim…
Mas ainda há tempo e espaço para dizermos alguma coisa sobre o livro de que é autora a Irmã Maria Rita Valente-Perfeito (Valper)
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O livro da Irmã Maria Rita Valente-Perfeito
(Valper
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O livro "Aldeia da Esperança" onde a Madre Valper descreve a luta que travou, em Moçambique, a partir de 1969. Uma nova luta... Desta vez contra a lepra.
"Quando estava há já um ano como professora no Colégio-Seminário de São Teotónio em Nova Freixo, na Província do Niassa, para onde fui em 1969, informaram-me que a cerca de 30 quilómetros de Nampula, existia uma gafaria abandonada havia cinco anos.
(...)
Pouco depois de ter chegado a Nova Freixo, vi o primeiro leproso da minha vida. Tinha um buraco tão profundo na planta dos pés que se lhe podia ver o osso..."
E, até 1984, a Irmã Valper não fez outra coisa mais do que dedicar-se à causa dos leprosos...
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É D.Augusto César, Bispo de Portalegre e Castelo Branco, o autor do "Prefácio".
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"A “Aldeia da Esperança” não precisa de apresentação. Nem ela nem a sua autora. São ambas da cor dos sonhos e quando sorriem convidam a caminhar…, deixando a morte para trás.
Cada capítulo do seu livro é uma pequena iluminura pintada com fé e amor fraterno Não há teias de aranha a coar o sol nem ressaibos de egoísmo a desfigurar a linguagem. Desde a primeira à última letra, saboreia-se uma vontade livre de doação aos outros e uma coragem que não permite à lepra vencer.
Gostava de ver este livro ampliado (tantos outros episódio que ficam esquecidos!) e de sentir os leprosos mais valorizados ainda. Os da Nemaita e os do mundo inteiro, desafiam a imaginação e a coragem de muitos com o argumento mais forte do mundo: o amor! Daí a sua esperança sonhada como presença, como dedicaçãop, como aldeia sorridente…
Mas vamos à leitura dos capítulos. Cada um pode ser um livro. E todos juntos são um poema de amor e de esperança."
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Ainda a tempo...
Uma foto feita no dia 27 de Setembro de 2008, na reunião das Bodas de Oiro.
Cinquenta anos depois do que ficou mencionado atrás...
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Aqui estão reunidas três jovens do "meu tempo"... Todas Biólogas.
Duas delas eram finalistas do Largo da Paz - "Lar das Doroteias":
A Maria Fernanda da Costa Ferreira, à esquerda:
A Maria Filomena Leite Gomes, autora da carta que recebi, à direita
A terceira, de pé, também minha colega de curso de Biologia, é a Maria de Fátima Rocha Peixoto que residia num outro Lar, que também já não existe (nem o prédio...) na rua da Cedofeita uma centena de metros distante do Lar da JUC no qual também eu vivi dois anos.
Bons tempos!...

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Obrigado, Filomena!

Nota: Por lapso tinha trocado o nome do Liceu Normal D.Manuel II (actual Rodrigues de Freitas) com o do Liceu Alexandre Herculano... Agradeço ao leitor Zé_Lucas a chamada de atenção para tal êrro.

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