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15 março 2010

Beira Baixa - 1960 – Dezembro

11 de Dezembro
No Ginásio do Liceu
Conferência da Dr.ª D.Maria de Lurdes Belchior sobre a Vida e a Poesia de Sebastião da Gama
No Ginásio do Liceu Nun’Álvares, realizou-se no passado dia 26, a anunciada Conferência sobre a Vida e a Poesia de Sebastião da Gama, pela distinta crítica literária e professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Sr.ª D. Maria de Lurdes Belchior Pontes.
Numerosa assistência, entre a qual se destacava o Sr. Presidente do Município, Vereadores e professores dos estabelecimentos de ensino secundário da cidade, acompanhou com invulgar interesse a brilhante análise da ilustre conferencista.
Após a apresentação feita pelo Sr. Dr. Liberto Cruz em nome da Biblioteca Municipal promotora da Conferência, a Sr.ª D. Maria de Lurdes Belchior Pontes, começando por agradecer as palavras que lhe haviam sidi dirigidas pelo Sr. Dr. Liberto Cruz, entrou no tema da sua palestra, análise lúcida e de invulgar penetração da Vida e da Obra de Sebastião da Gama de quem foi colega de curso e com quem conviveu longamente.
Ilustrando o seu estudo com trechos de cartas e poemas do inesquecível poeta, a Sr.ª Dr.ª D. Maria de Lurdes Belchior Pontes revelou a todos os presentes, mesmo àqueles que há muito conhecem a obra do poeta e que com ele conviveram, novos aspectos e prismas que têm passado despercebidos na sua vida e na sua obra.
Fazer um resumo da conferência, impossível, porque ela forma um todo, em que os raciocínios mais subtis se desenrolam de modo admirável.
Em resumo, foi uma hora de arte, de verdadeira arte literária que com dificuldade poderá ser esquecida por todos os que estiveram no Ginásio do Liceu Nun’Álvares no passado dia 26.
No final, o Sr. Dr. Vasco Mendes de Matos, fez o elogio da palestra proferida e agradeceu em nome do Município a presença na nossa cidade da Sr.ª Dr.ª D. Maria de Lurdes Belchior Pontes.
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11 de Dezembro
“In memoriam” – uma página coordenada por José Correia Tavares onde se podem ler dois artigos sobre Sebastião da Gama.
Um primeiro, assinado por Azinhal Abelho, publicado anteriormente em “A Semana”, de 8 de Março de 1952 (um mês após a sua morte) começa assim:
“Morreu Sebastião da Gama!
Morreu um poeta português!
Neste Inverno taciturno e frio, calou-se a voz do cantador da Serra-Mãe. Os galhos das árvores estão nus, o folhado da Arrábida “calou o seu perfume”, a lua nostálgica embaciada parece sofrer do mal da ausência… Falta já uma voz para cantar. Portugal ficou mais pobre.”
Um outro texto, quem o assina é Liberto Cruz (nesta época de 1960, professor no Liceu de Castelo Branco) que lhe deu o nome de “Sebastião da Gama, Homem-Poeta casado”
Em certa altura podemos ler:
“Sebastião da Gama é dos poetas jovens que, após a morte, suscitou maior interesse e admiração. Rara é a página literária que não tenha incluído um poema de sua autoria ou tenha esquecido quaisquer notas (ainda que breves) sobre o poeta da Arrábida. E não deve haver um poeta português jovem que lhe não tenha dedicado versos. Apenas conheço um poeta que – num outro plano, e mais vasto, entenda-se – tem sido alvo de semelhante fenómeno de simpatia: Federico Garcia Lorca.”
Ainda nesta página, José Correia Tavares inclui “Um Inédito de Sebastião da Gama” – o “Soneto do Guarda-Chuva”
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Ó meu cogumelo preto
minha bengala vestida
minha espada sem bainha
com que aos moiros arremeto
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chapéu-de-chuva, meu Anjo
que da chuva me defendes
meu aonde por as mãos
quando não sei onde pô-las
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ó minha umbela – palavra
tão cheia de sugestões
tão musical tão aberta!
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meu pára-raios de Poetas
minha bandeira da Paz,
minha Musa de varetas!”
Arrábida, 1. Fev. 1950
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18 de Dezembro
Nascimento
No passado dia 7 do corrente, deu à luz uma criança do sexo masculino, a esposa do Sr. Eng. António manuel Pissarra Xavier Lopes Dias.
Mãe e filho encontram-se bem pelo que nos congratulamos,
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18 de Dezembro
Cine Teatro Avenida
Hoje – Você quer dançar comigo, com Brigitte Bardot e Henri Vidal
3ªfeira Os milionários de Filadélfia, com Paul Newman e Barbara Rush
5ªfeira – Cucaracha, com Maria Félix e Pedro Armendariz
Sábado – Naquela noite, com Milene Demongeot
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25 de Dezembro
No dia de Natal, dois poemas, na Beira Baixa…
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“Dia de Natal
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Recebi hoje um cartão de alguém
Que mal conheço.
Alguém que um dia encontrei
e passou, sem deixar recordação
nem endereço.
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Este simples pedaço de cartão,
este cartão simplesmente cartão,
sem sinos a repicar nos cantos
nem anjos a cantar pautas musicais
bem desenhadas
mas sem musicalidade possível,
teve o condão de comover-me.
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--É o cartão de alguém que mal conheço
e no entanto
se lembrou de escrever-me.
José Correia Tavares
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Natal
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Há tantos, tantos anos
que inventamos palavras,
refazemos gestos,
que publicamente nos perdoamos
quando a brisa dos teus cabelos,
serena e fértil nos envolva,
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Há tantos anos
que, graves, contemplamos
a dádiva dos teus dedos,
a luz calma dos teus olhos,
o trigo puro dos teus lábios,
sempre plenos e certos.
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Há tantos anos
que acreditamos em nós próprios
e diariamente nos julgamos deuses

Há tantos anos.

Natal,
que a serenidade da tua presença
venha destruir a mentira de todos os homens
e nos devolva a coragem
da primeira noite de Belém,

Liberto Cruz
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25 de Dezembro
Cine Teatro Avenida
Hoje – Férias em Lisboa, com Vica Torriani e Inge Egger
3ªfeira – Os invencíveis, com Alan Ladd e Sidney Poitier
5ªfeira – Gangsters de Paris, com Jean Gabin e Annie Girardot
Sábado – A noite e a madrugada, com António Vilar e Zully Moreno

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