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07 março 2009

Alte Pinakothek - Munique

Cristo despojado das vestes
DomenicosTheotokopoulos, dito El Greco
1540 (?) – 1541


Cristo despojado das vestes

Excelente pintor de ícones já em Creta, mudou-se para Veneza provavelmente por volta do ano 1566; em 1570 deslocou-se a Roma e, depois de uma estada em Itália que se prolongou até 1577, a Madrid e a Toledo, onde ficou até à morte. El Greco sofreu sobretudo a influência de Ticiano, de Tintoretto e de Miguel Ângelo; rapidamente atingiu, porém, uma síntese expressiva e formal completamente original, que dificilmente se pode aproximar da dos outros pintores barrocos.
Esta é uma réplica de um quadro da Catedral de Toledo, executada por volta de 1606/1607. Cristo, com o rosto voltado para cima, a mão direita pousada no peito, encontra-se no meio da multidão pronta a desalojá-lo das suas vestes: um esbirro, à direita, já lhe agarrou na túnica. À esquerda, em primeiro plano, estão representadas as três Marias a meio corpo, enquanto do outro lado, um soldado prepara a cruz para a execução. Nas costas de Cristo, a multidão ameaçadora: rostos convulsos, lanças, alabardas. Mas apesar do violento realismo da representação, a cena nada tem de real, não se desenrola na realidade terrena. Com as suas cores chamejantes, que imediatamente se autodestroem, a liberdade do modelado , que deforma e alonga a forma dos corpos, como que agitados pelas emoções, o ritmo da composição, com função expressiva e não construído racionalmente, a indeterminação do espaço, o quadro é a transposição visual de uma emoção religiosa tornada forma, e por isso objectivada. Esta impressão é ainda reforçada pela figura de Cristo que, estranhamente indiferente à cena terrível que o rodeia, parece destituído de qualquer realidade corpórea, quase uma aparição imaterial mas sujeita aos sofrimentos psicológicos.

Cfr. Hermann Bauer
In “Grandes Museus do Mundo
Ed.Verbo – Setembro/1973

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