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16 novembro 2008

Uma entrevista…

José Manuel Fernandes e Graça Franco
conversam com
João Lobo Antunes

in. "Público"
16.11.2008

Prof. Dr. João Lobo Antunes

Leu o Estatuto do Aluno e ficou apavorado.
Tem falado com muitos professores e percebeu que o seu desconforto tem motivos que vão muito para lá das guerras da avaliação.
Defende ainda que educar não quer dizer que os estudantes sejam obrigatoriamente felizes nas escolas, antes que recebam os instrumentos para construírem a sua felicidade.
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Apenas escolhi alguns excertos sa entrevista que merecem reflexão.
No entanto, a entrevista merece ser lida na íntegra.
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…e se entendo que é um princípio fundamental o respeito por qualquer profissão, o respeito pelos professores é ainda mais importante, pois o futuro do país depende da educação dos seus cidadãos.
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… a questão era muito mais funda e não podia ser reduzida ao problema da avaliação. Depois, como médico, recebo muitos professores no meu consultório, conheço muitos professores, e nos últimos meses ainda não vi um feliz. Isso é altamente preocupante. As pessoas não estão satisfeitas, sentem-se muito limitadas no que fazem, até na capacidade de preparar as aulas, sentem-se encerradas numa "gaiola de ferro" burocrática. Encontro professores que, por doença, ficaram limitados, que são excelentes professores mas a quem dizem que ou trabalham de uma determinada maneira ou não podem entrar na escola. Como o consultório de um médico é um pouco como um confessionário, percebi que havia uma grande insatisfação que, agora, explodiu.
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Acho que a palavra-chave é sensibilidade. E também afecto. É preciso olhar para isto de outra forma. Não vai à força, nunca foi. É necessário perceber as causas do descontentamento. Quando não há realização profissional, quando os professores não se sentem bem com o que estão a ter de fazer, nunca poderão dar o seu melhor à escola e aos alunos. Isto é uma verdade auto-evidente.
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Ora, o que tenho sentido é que os alunos estão a ser esquecidos nesta discussão. Os professores tinham um trabalho a fazer, e basta ver como o processo dos exames do ano passado correu bem para ver que o fizeram. Mesmo não sendo fácil: sempre que me convidam, vou falar às escolas, e quando olho para aquelas turmas, para aqueles alunos, vejo como é difícil tê-los na mão.
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Os professores sentem que alguns instrumentos que tinham para controlar as turmas lhes foram retirados...Eu li o Estatuto do Aluno e aquilo é absolutamente mirabolante. Até o português que utiliza é de uma complexidade artificial, é o "eduquês" oficial, pelo que quando vejo aquela escrita desconfio do pensamento que a gerou, de como essas pessoas entendem a Educação
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A escola não serve para manter alunos felizes. Já o Presidente Wilson, dos Estados Unidos, que antes era reitor da Universidade de Princeton, dizia que a preocupação de que os meninos têm de ser felizes na escola não faz sentido.
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…primeiro que tudo, é necessário olhá-los nos olhos. Depois não se pode ter medo. Este ano dei duas aulas aos alunos do primeiro ano, a uma assembleia larga que bateu palmas no fim, e disse-lhes que tinham uma obrigação moral pelo simples facto de terem entrado para Medicina, até porque à porta tinham ficado muitos, se calhar alguns melhores do que eles. Disse-lhes que, quando se entra para uma universidade, assume-se um compromisso moral que tem de ser respeitado. E que isso implica muito trabalho. É importante que isto lhes seja dito sem medo.
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A palavra-chave é sensibilidade. E também afecto.
.É preciso olhar para isto de outra forma.
.Não vai à força, nunca foi.

O respeito pelos professores é ainda mais importante,
pois o futuro do país depende da educação dos seus cidadãos.”
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Talvez a DrªMaria de Lurdes Rodrigues possa ter tempo para ler o pensamento de João Lobo Antunes... e os seus dois "auxiliares" também...
Só lhes faria bem!...

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