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06 janeiro 2008

Retrato da semana

Sócrates e a liberdade
por António Barreto
in. "Público"
06 01 2008

António Barreto

Transcrevo algumas passagens da coluna "Retrato da semana" que António Barreto publicou esta manhã no jornal "Público"

"Em consequência da revolução de 1974, criou raízes entre nós a ideia de que qualquer forma de autoridade era fascista. Nem mais nem menos.
Um professor na escola exigia silêncio e cumprimento dos deveres? Fascista!
Um engenheiro dava instruções precisas aos trabalhadores no estaleiro? Fascista!
Um médico determinava procedimentos específicos no bloco operatório? Fascista!
Até os pais que exerciam as suas funções educativas em casa eram tratados de fascistas."
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"…sob a designação de diálogo democrático, a hesitação e o adiamento foram sendo cultivados, enquanto a autoridade ia sendo posta em causa. Na escola, (…) a autoridade do professor foi quase totalmente destruída."
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"Os demolidores da autoridade agiam em nome da liberdade. Sabemos que isso era aparência: muitos condenavam a autoridade dos outros, nunca a sua própria; ou defendiam a sua liberdade, jamais a dos outros."
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"…os candidatos a déspotas começaram a sentir que era fácil entrar, aqui e ali, contra a liberdade; a capacidade de reacção da população estava no mais baixo."
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"…os últimos tempos têm revelado factos e tendências já mais do que simplesmente preocupantes."

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"… foram tomadas medidas e decisões que limitam injustificadamente a liberdade dos indivíduos.
A expressão de opiniões e de crenças está hoje mais limitada do que há dez anos.
A vigilância do Estado sobre os cidadãos é colossal e reforça-se.
A acumulação, nas mãos do Estado, de informações sobre pessoas e vida privada, cresce e organiza-se.
…e tornam-se obrigatórios padrões de comportamento individual."
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"Da União Europeia chegam, todos os dias, centenas de páginas de novas regulações e directivas que, sob a capa das melhores intenções do mundo, interferem com a vida privada e limitam as liberdades.
A nova lei de controlo de tráfego telefónico que permite escutar e guardar os dados técnicos (origem e destino) de todos os telefones… os novos modelos de bilhete de identidade e de carta de condução com acumulação de dados pessoais e registos históricos, são meios intrusivos… a vídeo vigilância sem limites de situações, de espaços e de tempo é um claro abuso."
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"A politização dos serviços de informação e a sua dependência directa da Presidência do Conselho de Ministros revela as intenções e os apetites do primeiro-ministro.
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"A pesada mão do governo agiu na Caixa Geral de Depósitos e no Banco Comercial Português com intuitos evidentes de submeter essas empresas e de, através delas, condicionar os capitalistas, obrigando-os a gestos amistosos."
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"A retirada do nome de santos de centenas de escolas… é um acto ridículo de fundamentalismo intolerante.
As interferências do governo nos serviços de rádio e televisão sucedem-se.
A legislação sobre segurança alimentar e a actuação da ASAE ultrapassa todos os limites imagináveis da decência e do respeito pelas pessoas.
A lei contra o tabaco está destituída de qualquer equilíbrio"

E António Barreto termina assim:
Não sei se Sócrates é fascista. Não me parece, mas, sinceramente, não sei. De qualquer modo o importante não está aí. O que ele não suporta é a independência dos outros, das pessoas, das organizações, das empresas ou das instituições. Não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação, a que chama de comunicação. No seu ideal de vida, todos seriam submetidos ao Regime Disciplinar da Função Pública, revisto e reforçado pelo seu Governo.
O primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra a autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas.
Temos de reconhecer: tão inquietante quanto esta tendência insaciável para o despotismo e a concentração de poder é a falta de reacção dos cidadãos.
A passividade de tanta gente. Será anestesia? Resignação? Acordo? Só se for medo…”

Esteja descansado o Dr. António Barreto… E tenha fé!...
O Senhor José Sócrates há-de ser julgado!

E não só pela História…

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