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20 dezembro 2007

Quem morava em Castelo Branco...

Na década de 40, quem morava na rua de Santa Maria?...
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No nº125, ocupando o rés-do-chão e o 1ºandar, vivia com a esposa, D.Amélia Eugénia e com o filho Manuel Eugénio e a filha Maria Benedicta, o Dr.Manuel Duque Vieira.

D.Amélia Eugénia Duque Vieira

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Duque Vieira foi meu Professor de Filosofia, cadeira para a qual nunca foi preciso comprar um livro! As palavras proferidas durante as suas aulas, transcritas para os nossos cadernos diários fizeram de nós uns “filósofos” (sem maldade…) Foi com o Dr. Duque Vieira que aprendi a Lógica à qual vivi “acorrentado” durante toda a vida.
O Dr. Duque Vieira esteve durante alguns anos, ligado ao jornal "Reconquista" que ajudou a lançar juntamente com o Padre Albano da Costa Pinto que foi o Director quando o jornal surgiu em 1945.


A casa do Dr.Duque Vieira
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É curioso reler agora algumas palavras, por ele proferidas treze anos mais tarde, no almoço de aniversário da Reconquista.
A meu ver, a imprensa religiosa do país está errada. Está errada pelo excesso de temas religiosos, que tornam essa literatura enfadonha, pesada, que se lê por amor de Deus. Só há um país na Europa, onde a imprensa católica é muito lida. É na Holanda. Eu tive a oportunidade, há uns meses, de falar com um padre daí, um homem que esteve vários anos no Brasil, depois veio para Portugal e prestou um papel admirável, e que acabou por paroquiar uma freguesia de Lisboa, morrendo aqui há pouco como um Santo.
Pela primeira vez que o encontrei tive oportunidade de me sentar ao lado dele e perguntei-lhe:
Porque é que a imprensa católica da Holanda é muito lida?
E ele disse-me exactamente isto, sem hesitação nenhuma:
É porque não é beata!”
O Dr. Duque Vieira suscitou alguma polémica nos meios conservadores de Castelo Branco.

Duque Vieira e os seus alunos numa excursão do 7ºAno - Março/1953
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Quando os filhos se aproximaram da Universidade, o Dr. Duque Vieira concorreu ao lugar de Professor efectivo, no Liceu Normal de Pedro Nunes, em Lisboa. Foi ali que voltei a contactar com ele quando ali passei os meus dois anos de Professor estagiário, em 1963/65. Mas já nessa altura o extraordinário Professor que tive em Castelo Branco havia sofrido o “desgaste” de um AVC… que o tornou quase irreconhecível, como professor. E eu, que o conheci bem e sabia do respeito natural que todos os seus alunos tinham por si, fiquei imensamente desgostoso pela “balbúrdia” que se passava nas suas aulas, com os alunos a “contornarem”, com fracas maneiras, o respeito que lhe deviam…
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No nº116, 1º andar
Quase em frente do Dr. Duque Vieira vivia a família Proença de Almeida .

A Casa do Sr.Aires do Café Lusitânia

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O Sr.Aires era o proprietário do Café Lusitânia e era o Pai do José Fernando, o mais novo de uma série de sete irmãos. Em direcção ao mais velho deles, o Albano Proença que foi médico, passamos pela Maria de Lurdes, pela Maria das Dores, pela Maria Teresa, pela Ercília que foi casada com o Amado Estriga e com o qual morreu há uns anos num acidente quando ambos regressavam a Castelo Branco. Creio que havia uma outra irmã, casada no Fundão, mas não me recordo se seria mais velha ou mais nova que o Albano.
O sr. Aires faleceu ainda novo. A amizade e simpatia, de todos aqueles irmãos, levaram nesse dia a uma mobilização muito grande. Uma percentagem muito grande da juventude que frequentava o Liceu marcou presença e acompanhou o Pai dos nossos amigos na sua última viagem.

O Cor.José Fernando Proença de Almeida entre o Cor.Guardado Moreira e o Eng.Olímpio Matos, em 3 de Junho de 2006 - V.V.Rodão
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O Zé Fernando nunca deixou de estar presente nos nossos encontros académicos. Nunca o perdemos de vista, mesmo quando viveu durante alguns anos em Macau. Reside actualmente no Distrito de Setúbal onde contactamos com alguma frequência.
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No nº119, r/c e 1º andar
Vivia a família Oliveira Nunes.
Era a casa do Rónias, o Rui de Oliveira Nunes e da Regina, ele mais velho e ela mais nova do que eu. O pai era comerciante de artigos eléctricos e tinha o estabelecimento situado um pouco abaixo do Leão das Louças, na rua J.A.Morão.

Em 1ºplano, jjmatos e o José Trigo
no 2ºplano, o Rui e o Silva Gomes - Liceu 1948/49
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No rés-do-chão desta casa situava-se o “laboratório” do Rui. Foi ali que assisti e participei, pela primeira vez, na experiência da hidrólise da água. O Rui era um “artista” em “coisas” da química. Foi também naquele “laboratório” que ouvi pela primeira vez a Emissora Nacional, através de um “rádio” munido de um cristal de galena, um sulfureto de ferro, devidamente montado pelo Rui e munido de uns auscultadores "malandros" idealizados pelo Rui. Cada vez que por ali passo não posso deixar de recordar esses anos em que frequentávamos o 4º ou o 5º anos…

O rés do chão não mudou muito... O carro sim!

O Rui fez mais tarde o Curso da Marinha Mercante e foi um excelente profissional ligado às comunicações. Creio que morou no Barreiro (?) até ao dia em que a morte o chamou, há já um bom par de anos.

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No nº101 r/c e 1º andar era o Centro Artístico Albicastrense. Era e ainda é…mas agora com a “cara lavada” desde há algum tempo, com instalações novas remodeladas há menos de dez anos. Tenho, sobre isso, um pequeno apontamento:
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“Em 6 de Outubro de 1998, o poeta António Salvado foi homenageado em Castelo Branco, pela Câmara Municipal. A sessão desenrolou-se no Arquivo Distrital. Nesse dia escrevi que “(…) visitei, depois do jantar, o Centro Artístico que foi remodelado e recuperado há pouco tempo pela Câmara Municipal e tem a mão do Luis Marçal Grilo. Está uma pequena maravilha.”

No nº96, 1º andar moravam as senhoras Carneiro.

A casa das Senhoras Carneiros, agora recuperada

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No nº94. 1º andar era o Dr. Lívio Lopes Ferreira quem vivia. Eram solteiras ainda as duas filhas, muito bonitas, que ali viviam com ele. Curiosamente não me lembro de nenhuma delas no Liceu mas lembro que fizeram casamentos com algum “aparato”, a mais velha, Maria da Graça, com o Eng. Marques Maia e a mais nova, Maria de Lourdes com o Dr. José Pissarra Xavier Lopes Dias.

Em 1ºplano, a casa do Dr.Lívio em muito mau estado

No nº90 eram os Pais do Dr. Carriço que moravam, paredes-meias com o Dr.Lívio e quase em frente do Centro Artístico. Creio que o Dr.António Lobato Carriço ali continuou a viver durante algum tempo mesmo depois de ter casado.

Dr.António Lobato Carriço

O Dr. Carriço foi nosso Professor de Educação Física e foi o “inventor” de uma modalidade desportiva que muitas vezes praticávamos às segundas-feiras, principalmente quando a Académica perdia o jogo no domingo anterior… Enquanto nós, os alunos, jogávamos o “brutebol” o professor ocupava-se com a leitura de “A Bola” … durante a hora inteira. Partiram-se alguns braços…
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Na segunda metade da rua apenas me lembro da casa de duas famílias:

No nº70, 1º andar, que ficava muito próxima das traseiras do Cine Teatro Vaz Preto morava a Família do nosso colega Domingos Barata que ali vivia com o s pais e os irmãos. Sei que o Domingos passou muito tempo em Angola onde se dedicou à agrimensura, tendo regressado após a independência. Mas já estive com ele, de novo, há muitos anos em Setúbal, onde reside ainda um dos irmãos que ali foi funcionário da CGD.
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No nº 7, 1ºandar, já quase no largo do Espírito Santo e com um quintalão enorme que ia abrir na rua da Granja e na rua dos Chões, vivia a Família do notário Dr.João Lobato Carriço Goulão que era o pai do João Maria, da Toneta e de outras duas filhas mais velhas.

Dr.Sá Pereira, Dr.Mario Pardal(?)e Dr.Goulão

Conheci o João Maria no Jardim Escola, quando tínhamos 3 ou 4 anos.

A D.Maria Luisa Costa Pinto que era irmã do Padre Albano de quem falo mais atrás, foi a nossa professora de Aritmética. Segura no ombro da Maria Filomena Marques Vicente a partir da qual me situo eu, a Maria José Salavessa e o João Maria Serejo Goulão.

Com 13 ou 14 anos frequentei aquela casa quando o João Maria nos convidava para jogarmos…hóquei em patins num pequeno terraço que havia nas traseiras! Ele, e mais uns quantos, deslizavam bem sobre os patins mas para quem começava a aprender…aquilo era muito duro… quer dizer…o chão era muito duro!...

Dr.João Maria Serejo Goulão

Vi o João Maria Serejo Goulão em Castelo Branco quando foram homenageadas as nossas professoras do Jardim-Escola, D.Maria Amália Fevereiro e D, Cremilde, em 11 de Novembro de 2000. Não estava com ele há muitos anos. Licenciou-se em Medicina e exerce clínica na região do Porto, creio que na Senhora da Hora (?)

O casal Cerejo Goulão e os irmãos Mendes de Matos - 11.Nov.2000

1 comentário:

Rita disse...

Boa tarde,

Gostaria de saber se tem mais algumas fotografias ou noticias sobre o Café Lusitânia do Sr. Aires.

O seu blog está muito interessante!

Obrigado