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09 novembro 2007

Museu do Prado - As Majas

As Majas
Francisco Goya
1746 – 1828

A maja desnuda

Os dois quadros de Goya conhecidos com o título de As Majas justificam plenamente, pelos valores absolutos que encerram, a sua enorme popularidade. Goya compraz-se em apresentar-nos o protótipo da madrilena dos seus tempos e não se deixa intimidar pela ousada pose dos braços, da qual, pelo contrário, desfruta, para dar maior relevo às formas do busto juvenil. A esbelteza da cintura acentua o carácter de vivacidade madrilena das duas figuras É justo falar de figuras ou de “majas” no plural, mas também no singular, já que o modelo da “maja” vestida é uma rapariga de elevada estatura, bem lançada, enquanto na “maja” nua, Goya retrata o protótipo da madrilena pequenina, de figura miúda mas perfeita. Se, portanto, com base na conhecida história, queremos ver na duquesa de Alba, tão admirada por Goya, uma das duas “majas”, devemos escolher a “maja” vestida”, e não a nua, uma vez que conhecemos bem, através do retrato que se encontra no palácio ducal, a figura esbelta da princesa.

A maja vestida

Parece, porém, muito mais provável que ambas as “majas” sejam de situar em aventuras amorosas do favorito Godoy, a quem pertenceram os dois quadros, como consta num documento de 1808. Além disso, Beroqui fez notar que Goya só se decidiria a pintar dois quadros tão audaciosos se fossem encomendados por uma personalidade influente. A lenda que os considera a ambos retratos da duquesa foi divulgada em 1845 por Viardot, na sua obra Museus da Europa.
As duas “majas” não passaram despercebidas junto do Santo Ofício da Inquisição, e o mesmo Baroqui tornou conhecida a ordem comunicada pelo depositário geral dos Sequestros, datada de 22 de Novembro de 1814, em que se prescrevia a entrega à Inquisição da Corte e ao secretário de quatro pinturas “obscenas” pertencentes a Godoy: “Uma delas representa uma mulher nua na cama…” E dá-se também ordem a Godoy para “se apresentar pessoalmente…” Não se sabe, pelo contrário, de que modo se resolveu depois a questão.
Para que não faltasse à lenda um pouquinho de truculência, o sobrinho de Goya comunicou a D. Pedro Madrazo, conservador do Prado, a notícia de que as duas “majas” retratam a amante de um tal padre Bavi, por alcunha o Agonizante, que acabou depois na forca por tê-la assassinado.
Numa avaliação comparativa das duas telas, uns admiram principalmente a ampla fractura e a beleza colorística da Maja vestida, enquanto outros preferem a delicadeza formal da Maja nua, que Sanchez Cantón justamente comparou à Vénus de Cirene, do Museu das Termas, em Roma.
No inventário de Godoy, as “majas” estão catalogadas como ciganas.
A sua influência na pintura moderna, e em essencial nos nus de Manet e Renoir, é evidente.

Cfr. Marco Valsecchi
In, Grandes Museus do Mundo
Ed. Verbo – Novembro/1973

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