Páginas

26 novembro 2007

Eles estão doidos!

Não estão, não Senhor! Nós é que passaremos a estar...


António Barreto

Não quero deixar de assinalar o texto estupendo de António Barreto, no seu espaço semanal, nas colunas do Público (25.11.2007) e de afirmar que o seu escrito até parece uma brincadeira…
Mas não é!... É antes um Aviso.
E quem nos avisa…

"(…) A solução final vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias primas industriais
e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado.

Estes exercícios de liquidação são poderosíssimos : têm um estado maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do Ministro da Economia e Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.

Em frente à faculdade onde dou aulas, há dois ou três cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao dominó. Acabou! É proibido jogar!

Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas , refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.

(…)
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, uma horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Acabou. É proibido.

Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
(…)
Vender no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
(…)
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido
ter pão congelado para uma emergência: só em arcas especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há 30 anos? Proibido.
(…)
As regras, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas…

(…) Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca Cola e vinho tinto.

Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
(…)
…não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se fazem tostas mistas.
(…)
Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche , tem de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias , fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
(…)
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes põe dia e devidamente registadas.
(…)
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser, desde que seja com facas de cor diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte.
(…)

Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente
E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas.

Para nosso bem, pois claro."
In "Publico", 25.Nov.2007


De certo modo, “isto” faz-me lembrar Aldous Huxley, mais a sociedade que ele descreve no seu ” Admirável Mundo Novo” … regido, é claro, por uma cabeça bem pensante que, com os nossos agradecimentos, até passará a pensar por todos nós!

1 comentário:

A Vilhena disse...

Ainda se lembram de quando, muito preocupada com o nosso bem estar e a nossa boa forma física, a Dinamarca propôs a pasteurização das massas queijeiras?
Santa ingenuidade...!!!