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05 novembro 2007

Deixem os professores em paz

Este princípio de Novembro, todos os anos me altera os hábitos de leitura.
A deslocação que me leva, por esta altura, a Castelo Branco não me dá tempo para pôr a leitura em dia… No regresso, é quando recupero como se esta leitura fosse um “tpc”… que ficou por fazer…


M.Filomena Mónica 1960 (?)
(foto de Carlos Braancamp Freire Pinto Coelho)

Sempre que se lembra de escrever as suas Crónicas, gosto de ler a Maria Filomena Mónica. E tanto mais, desde que soube que também ela, miúda ainda, em 1954… percorria as ruas, que eu próprio também pisava, ali próximo de S.Mamede e da Politécnica onde ia visitar, se não erro, uma avó que por ali vivia.
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É ela quem o diz...
Uma vez por semana, frequentava a missa na igreja situada no Largo de S.Mamede (até a minha mãe ter optado pela mais chique igreja do Loreto).
Por vezes, aventurávamo-nos pela rua da Escola Politécnica, onde, depois da comunhão, nos enchíamos de bolos na Alsaciana. Noutras ocasiões íamos até casa da minha avó, ao lado da igreja… " (cfr.BI memórias)
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Com dez ou onze anitos, quem sabe se não nos cruzamos por ali alguma vez… Por essa altura, a Alsaciana e a Cister era as minhas “salas de estudo”…

É do “Espaço Público”, do jornal “Público” saído no dia de Todos os Santos e a que Filomena Mónica deu o título “Deixem os professores em paz”, que retiro os “apontamentos” que aqui deixo hoje.
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“É fácil deitar a culpa dos males do ensino para cima dos professores.
Eu própria já o fiz, mas as coisas chegaram a um ponto que o ataque a esta classe, especialmente se vindo do ministério, é indecoroso.
Para se ser bom docente, são precisas três coisas:
uma sólida preparação de base,
prestígio junto da comunidade
e
autonomia de acção.
A isto pode juntar-se a paixão pelo que se lecciona, um ideal que nem todos podem atingir.”
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“ …Depois de lhes ter dado uma educação deficiente, de ter transformado a sua carreira num pesadelo, de lhes ter retirado a possibilidade de inovar, o Estado dá-se ao luxo de os olhar com desconfiança.”
( … )
“Com a evolução da sociedade portuguesa – e não o devemos lamentar – tudo isto mudou. Muitos dos alunos provêm agora de meios sócio-económicos baixos e são fruto de gerações de analfabetos. É com crianças educadas à base de telenovelas e de “saberes” aprendidos na rua que os professores têm de lidar. Como se isto não bastasse a escola é forçada a desempenhar funções que, em princípio, não lhe competiria, tais como cuidar de miúdas que engravidam aos 13 anos e de rapazes que consomem droga.”
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E, para terminar:
"Sem programas bem feitos, sem manuais decentes, sem incentivos para se actualizarem, a vida dos professores transformou-se num inferno."

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