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02 agosto 2007

Ainda o Edmundo...

Leio semanalmente, na Reconquista,
o “Cousas e Lousas” do Professor Frade.
Esta semana, chamou-me a atenção o título escolhido
Ainda o Edmundo…”,
e logo tive a certeza que o professor Frade ia recordar
o Amigo que nos deixou há pouco tempo.
A coluna desta semana é encimada por uma frase bem bonita:
Ter lembrança é ter saudade”. Mas todo o artigo está cheio de coisas lindas que enaltecem o seu autor e a amizade que nutria pelo Edmundo.

Professor António Frade


Voltei a recordá-lo, ao ler e colocar no seu lugar velha correspondência do antigo companheiro das Escolas do Cansado.”
E logo acrescenta:
E este recordar, tem mais de um moio de anos, meu Deus! Estes filmes de imaginação, sem imagens reais, obrigam a um esforço enorme de memória…”
(…)
“As lutas pela sobrevivência digna, numa profissão muito respeitada, fizeram verdadeiros cidadãos da vida, de muitos rapazes e raparigas da nossa geração, que mal ganhavam para se alimentarem… O casamento com a colega e as lições particulares, dadas fora de horas e sem horários, ajudaram na formação da prole. Tantas conversas a este respeito com o Edmundo! Tantos escritos e tantas ideias ventiladas…
Mas tudo isto, a talho de foice, depois da partida do Edmundo, que nos deixou há dias sem dizer que partia. Mas deixou saudades.

Deixou ditos e frases feitas, das que ele tinha sempre na ponta da língua:
- “Ó Tonho, vai-me lá dizendo como está a cidade… Não a deixes estragar”.
- “Está descansado Romeiro que ela está entregue em boas mãos. Na próxima Romagem, vais ver. Um mimo. Quem te viu e quem te vê! Já não a conheces! Lá para os lados dos palheiros dos ciganos, no Pires Marques, e para o outro lado onde íamos com o Alexandre ver a namorada, estão duas novas cidades. Lembras-te? Era ainda para lá do Montalvão…”
O Professor cita agora um “trecho maravilhoso” de Luis Forjaz Trigueiros (1915/2000)onde este recorda a sua (!) “cidade de província” que deixou há anos e compara agora com as muitas mudanças entretanto surgidas.
Ofereço-o hoje à tua memória. Gosto muito dele e é por isso que o vou transcrever.”

Apenas destaco, deste texto, três passagens que acho memoráveis:
“O mais extraordinário é que havia ali muito homem que trabalhava, muita mulher que educava os filhos, muitos estudantes que estudavam:”
(…)
Já é possível nos cinemas e nos teatros não nos conhecermos uns aos outros…”
(…)
Rápido como o tempo de hoje, uma cidade vai nascendo em cada dia, em cada ano. Para trás e para sempre ficou a minha cidade da província.”

E o professor António Frade remata o seu escrito de hoje, com uma Nota:
Esta era a nossa cidade, meu caro e velho amigo. A nova, que há muito não visitavas, é já a dos nossos filhos e dos nossos netos. Está catita e ainda vaidosa dos seus bordados e das suas gentes hospitaleiras. E até sempre, como nos ensinou o Dr.Duque Vieira. Ou até quando Deus queira… como cá se usa.
Tu ainda estás connosco… Até falámos da nossa cidade.”
.
Li "isto" hoje, em 2 de Agosto...
...devo agradecer ao Professor António Frade.

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