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13 maio 2007

António Russinho

Vernissage em 06.06.1985
Romagem da Saudade - Castelo Branco
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Eng.António Russinho e um dos seus trabalhos
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Num folheto a anunciar a Exposição que fez no Liceu por altura da Romagem de Saudade de 1985, podemos ler o Curriculum de António Russinho:

“Nasceu em Castelo Branco. Estudou em Lisboa. Nesta cidade convive com poetas, pintores, músicos (Sebastião da Gama, Norberto Correia, Júlio Gil, Vasco de Lima Couto, Pedro Homem de Melo, Matilde Rosa Araújo, Manuel Lereno…); Cria com Norberto Correia a “Grei Lusitana”, que reúne colegas de várias Faculdades e que desenvolve um programa de actividades culturais; com Sebastião da Game e Norberto Correia organiza uma embaixada artística a Castelo Branco.
Em Castelo Branco, onde muito cedo passa a residir, funda o Círculo de Educação e Cultura, entrega-se ao Ensino e, em 1952, cria a Delegação da Sociedade de Concertos “Pró Arte” que ao longo de trinta anos vai realizar mais de 150 Concertos; em 1982 é destacado para o Conservatório Regional de Castelo Branco e dedica-se também ao jornalismo. Nos Estabelecimentos por onde passa funda diversos jornais, colaborados e destinados aos jovens. Foi Vereador da Câmara Municipal de Castelo Branco durante dois mandatos.
A sua paixão pelo Desenho e pela Pintura, herda-a de sua Mãe, e é de muito novo que se exercita nestas formas.
Esta Exposição, a primeira individual que realiza tem por temas: “As 4 Estações do Ano” (guaches), Castelo Branco – Cidade” (lápis) e diversos (alguns da sua juventude, como óleos, carvões e lápis).”

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Lembro-me que numas férias grandes, talvez em 1947 ou 1948, os alunos do Liceu ligados à Pré JEC e liderados pelo colega mais velho Hermenegildo Dias e pelo Padre João Mendes Pires, recentemente falecido em Mouricas, fizeram um Acampamento em Alpedrinha, na quinta do Hilário, lá alto da Serra junto à estrada romana, entre a Vila e Alcongosta.
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António Russinho, homem dado às Chefias da Mocidade Portuguesa foi um dia visitar o Acampamento. E nunca mais nos esquecemos daquilo que vimos nessa altura… Um homem lendo poemas e recitando como se ninguém ali estivesse para o ouvir… completamente entregue à tarefa de comunicar cultura às novas gerações… Lembro-me que, gaiatos ainda, gozámos com a situação pouco comum a que estávamos a assistir. Mas o certo é que dessa situação teria ficado alguma coisa!

É deste homem que fala Matilde Rosa Araújo num texto dado à estampa na altura em que inaugura a Exposição, naquela Romagem de Saudade, em Junho de 85.

Romagem de 1985 - 6 de Junho


Talvez seja melhor "traduzir" o que ali ficou escrito:
"Nesta ano Internacional da Juventude, António Russinho, que sempre amou a Juventude vai continuar a ser jovem redescobrindo a poesia das suas mãos: mãos não que estão cansadas porque o sonho acompanhado pela Juventude não cansa.
Talvez a sua exposição a sua verdadeira idade; talvez ele fique a saber que uma estrada longa está à sua frente, que, lembrando os jovens que durante tantos anos acompanhou, veja as árvores, as flores, as gentes desde a sua cidade com a verdade e a poesia com que viveu a sua vida de professor.
Não se trata, sabemo-lo, de uma vocação tardia mas do tempo necessário para que uma vocação, que até agora não teve o tempo de se afirmar, seja cumprida.
Antóni Russinho, daqui de Lisboa para a sua cidade branca, lhe envio um fraternal abraço com votos sinceros não de uma reforma em que as suas mãos tenham o merecido descanso mas de uma reforma em que as suas mãos recriem formas e cores no seu modo de amar.
Os seus antigos alunos virão de vez em quando debruçar-se sobre os seus quadros. a Lurdes estará vigilante na jornada com o companheirismo de sempre, doce comungante.
A Juventude, lá fora, continuará com a sua força poderosa. Com todos os Anos Internacionais de comemoração da Primavera. E o AntónioRussinho só conhecerá o Outono nas tintas dos seus quadros: Outono sobre Primavera.
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Matilde Rosa Araújo

1 comentário:

MadalenaC disse...

Tive o enorme privilégio de privar com ANTÓNIO RUSSINHO, durante cerca de 14 anos: éramos amigos e frequentei a casa deles, na Rua António Maria Cardoso em Castelo Branco. Uma pessoa cheia de energia e ternura, um homem de afectos e sedento de justiças, um homem que respirava cultura por todos os poros. Um homem de uma sensibilidade incrível, sempre atento aos outros e aos seus problemas, que vivia a sua fé no dia a dia e que estava sempre a provar que essa fé, era a sua vida, proque a praticava - era até desconcertante - ou melhor - era eu que não estava habituada a tanto despojamento e franqueza. Vivia para ajudar os outros a subir na vida - a ter patamares de sensibilidade, de compaixão pelo próximo, e querer ser mais além, como seres humanos. Era um HOMEM BOM, singular e muito importante na minha vida . Recordo o dia em que soube da sua morte, em 2001 - e chorei muito. Mas também chorei, quando recebi a sua última carta, quando já tinha falecido, agradecendo a minha visita na sua última morada, uma semana antes, e pedindo-me licença para me tratar, como se fora sua filha, porque era assim que ele me tinha em conta. Ainda hoje me comovo e ainda hoje sinto a sua imensa falta. Foi bom ter morado em Castelo Branco, só para ter tido o privilégio de conhecer ANTÓNIO RUSSINHO, e toda a sua dimensão humana e cultural. Um Homem ímpar - muito à frente do seu tempo - muito para além dos olhares pedantes do provincianismo bacôco de então.