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15 março 2007

O Livro da Marianinha

O “Stand Vidal”, em Castelo Branco, ganhou uma aura muito bem merecida… Era um local que respirava Cultura e Saber e, não só por isso, bastante marcado politicamente…

O sr.José Vidal Sestay e a filha Maria Branca, minha Amiga de longa data, numa foto tirada em 3 de Maio de 1980, numa reunião de Antigos Alunos do Liceu de Castelo Branco, realizada na Casa do Alentejo, em Lisboa,
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Era o Senhor Vidal, quem me guardava a maioria dos livros que “só se vendiam por baixo do balcão”… Quando, de férias, eu ia a Castelo Branco, a passagem pelo seu estabelecimento era obrigatória, como obrigatório era eu ouvir, dito de maneira muito sóbria, qualquer coisa do tipo: "Olhe, dr.Matos, temos aí umas novidades..." Adquiri assim muitas daquelas "novidades"!
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E este livro, da autoria de Aquilino Ribeiro, “O Livro da Marianinha”, era uma dessas novidades… Saído em 1967, a edição tinha todos os exemplares marcados com o sinete do autor e era ilustrado com desenhos de Maria Keil.
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Nada tinha de “subversivo”… apenas o nome do autor despertava temores e merecia as atenções de censura…
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Aquilino dedicou-o à neta Mariana, como antes já tinha dedicado a cada um dos filhos, outros dois muito conhecidos, o “Romance da Raposa” e a “Arca de Noé”.
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Aquilino Ribeiro
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Este livro, Marianinha, leva o teu nome porque foste tu a musa – para empregar a linguagem usada nos bons velhos tempos do metro e da rima - que o inspirou.
(…)
Para o meu amor pequenino, compus agora estas prosas rimadas.Leram-nas já homens de cabelos brancos como eu, esses que de velhos tornam a meninos, que, parece, lhes acharam alguma graça, e novos, a partir da idade e saber com que se entra para as escolas, que folgaram com elas.Tenho esperança, Marianinha, que, algum dia, já eu longe do mundo, as leias e te façam sorrir.”
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É esta dedicatória dirigida à neta Mariana que inicia a obra.
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Não sei que idade teria a Marianinha nessa altura mas mesmo para qualquer adulto, a prosa de Aquilino é muito "áspera"...
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Porque é neta,a Mariana disse com certeza ao Avô que o livro que lhe dedicou era muito bonito... Mas só porque é neta...
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Leiam estas pequenas "prosas rimadas" e pensem no "castigo" que o Avô Aquilino "aplicou à Marianinha...
Na pg.44
(…)
"Trepávamos pelas árvores aos ninhos,
mas eram mais finos do que nós, os passarinhos,
e íamos declamando à troca-baldroca:
--Eu sei o ninho
dum carrapichinho…
--E eu sei um ninho de gafamagafe
com cinco gafamagafinhos.
Armaram o laço à gafamagafe
e ficaram desgafamagafinhos
os cinco gafamagafinhos.
Caçávamos os insectos estridulantes,
cigarras, ralos e alguns volantes:
Mestre besouro,
nem prata nem ouro,
fungador
como um toiro;
nas suas horas dançador
e acrobata-saltador,
se dá na vidraça,
não a estilhaça
mas faz-lhes dar estoiro
como um pelouro.
(…)
Aquilino Ribeiro era um Avô..."intragável"! Pobre Marianinha...

1 comentário:

Unknown disse...

SENHORES, O SEU APELIDO É GALEGO, NÃO É? É QUE VOCÊS VÊEM DA GALIZA? ENCONTREI SESTAY'S NA GALIZA, UMA COMARCA DA ESPANHA) MAS NÃO EM PORTUGAL.